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Pesou o pragmatismo

editorial
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A Operação Contragolpe implementada pela Polícia Federal, que culminou com a prisão de quatro militares e de um agente da Polícia Federal, terá desdobramentos ante o teor do inquérito divulgado nesta terça-feira, mas é preciso destacar que, mesmo tendo sido ofuscado, o dia final da COP 30 rendeu resultados positivos para o Brasil, especialmente para a diplomacia, que soube buscar consenso em temas que, num primeiro momento, eram conflitantes. Um deles foi o combate à fome, que encontrava resistência do presidente da Argentina, Javier Milei. Ao final do dia, ele cedeu como também concordou em aderir ao documento final.

Milei é pragmático. A despeito do discurso radical que apresenta desde o período de campanha, e reforçado após a sua posse, sabe que há questões que ultrapassam o viés ideológico. Entre ficar isolado e fechar portas para novos negócios, especialmente com a China, é melhor conversar. Deve se encontrar com Xi Jinping no início de 2025.

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Na sessão de encerramento, o destaque foi o discurso do presidente Lula, que, mais uma vez, alertou para as mudanças climáticas, já sabedor que a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos será um empecilho para novos projetos. Ele defendeu a antecipação das metas de 2050 para 2040, ou até mesmo 2035, em razão das ameaças que estão se acentuando. Ao apontar que não há espaço para negacionismo, e que o Brasil vai continuar atuando pela integridade das informações sobre mudanças do clima, emitiu um alerta para o governante americano e para os defensores da tese de que não há risco ambiental iminente.

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A questão é relevante e polêmica por conta do jogo de interesses que permeia as discussões. O mesmo governo brasileiro que ora defende a redução das emissões deve ampliar sua produção de petróleo em poços na região amazônica. Soa quase como um contrassenso, mas faz parte do pragmatismo econômico que envolve os EUA, a União Europeia e outros tantos países, como a China, que ainda não têm planos de mudar a sua matriz energética.
Mas é preciso insistir, uma vez que, como também destacou o presidente, a COP 30 é a última chance para a implementação de medidas de enfrentamento à instabilidade do clima. O Acordo de Paris, que apontou para uma série de ações, precisa sair do papel.

É incerto o que virá pela frente após a conferência do Rio de Janeiro. O próximo evento será em Belém, mas até lá haverá mudanças substanciais no fórum global, com mudanças de governo em diversos países, especialmente nos Estados Unidos. O que virá após a chegada de Donald Trump é uma incógnita, mas os primeiros ensaios são preocupantes nas diversas frentes.

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O ciclo das águas será emblemático para destacar a tese de mudança do clima. Outubro teve chuvas acima da média, e novembro vai pelo mesmo caminho. O preocupante envolve o que virá pela frente, especialmente na fase mais aguda das chuvas. Os temporais de verão têm provocado danos acentuados nas metrópoles brasileiras, e a maioria delas ainda não se preparou para tais eventos. No exterior não tem sido diferente. As enchentes na Espanha, com centenas de mortos, e os furacões cada vez mais intensos nos EUA revelam que ninguém está imune.

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