Embora os dois maiores municípios do país – São Paulo e Rio de Janeiro – tenham adotado o feriado da Consciência Negra, em comemoração a Zumbi dos Palmares, Juiz de Fora, por meio de uma decisão judicial, resiste a cumprir projeto aprovado pela Câmara estabelecendo medida semelhante. O argumento, capitaneado pelos setores do comércio, é de que seria feriado em demasia para um mês que já tem Finados e Proclamação da República, o que comprometeria as vendas. Argumento à parte, pois cabe à Justiça avaliar possíveis recursos, as metrópoles não têm o mesmo ponto de vista e buscam alternativas de negócios em tais situações.
Zumbi de Palmares é uma figura emblemática para o movimento negro, por significar a luta pela liberdade e contra o opressor. Reconhecê-lo é entender um pouco da história de um país que se diz miscigenado, mas que mantém, ainda, vários fronts de preconceito. Último a adotar a libertação, por uma ação direta da princesa Isabel, mas sem os desdobramentos necessários para garantir aos libertos uma condição mínima de vida, o Brasil ainda tem um longo caminho a trilhar. As comemorações servem para lembrar essa página que marca negativamente a nossa história.
Mas a discussão não deve ficar presa ao passado. O racismo é parte de um pacote de preconceitos que afeta também as mulheres a despeito de serem maioria da população. Se é mulher e negra, a situação fica mais crítica, bastando ver os números do mercado. Mesmo trabalhando em funções semelhantes, ganham menos, embora ainda tenham que enfrentar o chamado terceiro turno em suas residências.
Após um pleito marcado por relações tensas, no qual o preconceito teve papel especial, o país precisa repensar seus conceitos e olhar para o futuro, mas isso só será possível se o Estado seguir a mesma trilha, dando aos cidadãos direitos e deveres iguais. Hoje, somente as obrigações estão no mesmo patamar. Os direitos, nem tanto.