A inédita seca nos rios amazônicos, que não se registrava há cerca de um século, é a face mais exposta da questão climática. O Rio Negro, que corta Manaus, é apenas um espelho de seu verdadeiro leito, e o próprio Solimões, que a partir da capital amazonense passa a se chamar Rio Amazonas, também sente os efeitos da estiagem.
É surpreendente que a Floresta Amazônica, considerada o pulmão do mundo, tem incidentes de seca com repercussão direta em seus rios. A natureza dá mais um aviso, entre tantos outros, apontando que a situação está perto do ponto de não retorno. A situação no Norte é parte de um problema que incide de novo inverso na Região Sul. Santa Catarina voltou a registrar fortes tempestades, e populações inteiras entram na lista de flagelados das chuvas.
A primavera é uma estação híbrida, que apresenta situações de inverno e de verão em custo espaço de tempo, bastando acompanhar as frequentes oscilações de temperatura, mas o verão no Cone Sul e o inverno no Hemisfério Norte, a partir de dezembro, podem revelar situações extremas. Os meteorologistas já antecipam temporais de grande intensidade e temperaturas elevadas. Recentemente, a Região Sudeste teve uma amostra quando os termômetros esbarraram na casa dos 40 graus. No Sul, desde meados do ano, os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina têm sido afetados por fortes temporais.
Não há surpresa nessa instabilidade. O que preocupa é a inércia dos governos que se mantêm distante da discussão climática. Os vários fóruns de discussão já fizeram um robusto um diagnóstico do que ora ocorre e do que está por vir, mas todos os esforços para redução da emissão de gases esbarram em lobbies de grandes grupos que não querem mudar seu modelo de produção.
Quem investir em energia limpa está se antecipando a uma questão que será realizada até meados do século, sobretudo pela perenidade dos combustíveis fósseis. O petróleo é uma commoditie de uma só safra, o que induz ao incremento das pesquisas e implementação em maior escala de novos projetos. Os países árabes já perceberam o problema e investem fortemente no turismo com patrocínio de grandes eventos, como Copa do Mundo de futebol, Fórmula 1 e outros esportes de repercussão mundial.
O grave nesse processo é que não há ingênuos. Todos conhecem o que está sendo feito e as drásticas consequências, mas nem assim mudam suas políticas ambientais, acreditando de forma equivocada que ainda há espaço para transigir. Trata-se de um equívoco que afeta não apenas as pequenas regiões mas também os países que comandam o debate global.
Ao final de todo esse ciclo de inação, todos pagarão a conta.