Quando o deputado Severino Cavalcanti caiu da presidência da Câmara, por ter se envolvido num negócio mal explicado com o dono de um dos restaurantes do Congresso, as chamadas forças políticas não se manifestaram em sua defesa. Ao contrário, para o que, nos termos de hoje, seria quase um pecado venial, sua queda se processou em tempo recorde. Agora, com um presidente acossado pelas evidências de dinheiro no exterior não declarado e cuja fonte soa propina, ele resiste bravamente, embora saiba que mais dia menos dia terá que pular fora.
No caso de Cunha, a indagação é inversa: por que ainda não caiu? A palavra tanto pode ser dada à bancada governista quanto à bancada da oposição, pois ambas agem de acordo com conveniências próprias. A base, por achar que provocar o deputado é acelerar o processo de impeachment da presidente. O grupo oposicionista, por ainda ver nele um aliado para colocar a discussão em pauta.
Nesse jogo de interesse, perdem todos, pois Cunha, aos poucos, está se tornando mercadoria com prazo de validade vencido, dando margem para a procura de uma nova liderança do Legislativo. A insistência em tê-lo como fator fundamental na balança do jogo político emperra discussões e deixa o país politicamente paralisado, exatamente num momento em que decisões devem ser tomadas para a saída da inércia que afeta, sobretudo, a economia.
O presidente da Câmara vai lutar até o último momento, trabalhando com prazos que só a ele interessam, já que ainda tem a ilusão de sair da enrascada em que, de próprio punho, se meteu.