É próprio da política considerar que o melhor período para os eleitos ocorre entre a proclamação dos resultados e a posse, mesmo assim com alguns ruídos na formação das equipes, já que não é possível agradar a todos os aliados na mesma proporção. Mas é após a posse que começa o inevitável inferno astral, sobretudo quando os vitoriosos são oriundos de pleitos divididos, como ocorreu em 2022, no qual o candidato Luiz Inácio Lula da Silva só virou o jogo quando foram computados os votos do Nordeste. Em expressivas regiões, o jogo foi parelho, e em outras, como Rio e São Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro ficou à frente.
O resultado desse embate polarizado, e de números tão curtos ao final da computação dos votos, está nas pesquisas sobre a avaliação do Governo. Antes dos cem dias, o presidente da República ainda estava surfando na onda da eleição, mas, vencidos os três primeiros meses, algumas demandas começam a pesar na opinião pública. Nessa quarta-feira – um dia após avaliar o cenário mineiro -, a Quaest apresentou a avaliação do Governo no cenário nacional. A avaliação positiva, antes de 40%, caiu para 36%, e a avaliação negativa, situada num primeiro momento em 20%, subiu para 29%.
Os números não significam qualquer alerta, pois revelam basicamente a polarização das urnas. Enquanto os eleitores de Lula ainda estão satisfeitos com sua gestão, os opositores começam a se manifestar. E é aí que reside a questão a ser analisada: a rejeição oposicionista já era esperada, mas a oscilação se deu no caminho do meio, onde se situam os eleitores que apoiaram o candidato vencedor apenas no segundo turno e agora começam a cobrar a conta.
Ainda é cedo para considerar esse potencial, que, provavelmente, terá um comportamento pendular até uma definição mais consistente do cenário político. Estão na agenda do Congresso temas caros ao Governo e outros de interesse direto da população. O primeiro teste será o arcabouço fiscal, já na Casa, com votação prevista para o mês de maio, mas será a reforma tributária o grande teste, por afetar diretamente o setor produtivo, estados, municípios e, na ponta de tudo, a população.
Trata-se de uma pauta já tentada por outros mandatos sem um desfecho, daí a sua repercussão na opinião pública. Todos conhecem as demandas, mas só agora o jogo será jogado no Congresso, Casa em que o Governo ainda não tem uma maioria consistente. Na recente tentativa de cindir o Centrão, o tiro acabou saindo pela culatra com a criação do “Blocão do Lira”, em alusão aos 173 deputados e deputadas que estão sob a batuta do presidente da Câmara, Arthur Lira.
Esse jogo tem repercussão direta nas pesquisas, pois elas captam o sentimento das ruas em meio a tantas mudanças. Os números servem de referência para os atores políticos, mas não significam, necessariamente, que devem atuar ao sabor da pressão popular, sobretudo quando há pautas que desagradam a opinião pública, mas são necessárias.
Os muitos desafios do país impõem ações que, num primeiro momento, inspiram a rejeição mesmo diante da sua relevância. Quando apresentou ao seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique, a necessidade de se mudar o padrão monetário, com a criação do Real, o presidente Itamar Franco foi ouvido com desconfiança. Tempos depois, a opinião era outra, embora seu ministro tenha capitalizado o sucesso – com apoio de boa parcela da opinião pública e dos meios de comunicação – e se tornado o sucessor na gestão seguinte, com direito à reeleição.