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Tiro no pé

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O senador Renan Calheiros (MDB-AL) deu um tiro no pé ao vazar trechos de seu relatório para jornais paulistas, quando havia um trato de todos os membros da CPI da Covid elaborarem uma discussão prévia antes de a matéria ir para votação. Pelo menos até o encerramento desta edição, os “bombeiros” ainda tentavam apagar o incêndio, fruto, no entendimento dos críticos, da vaidade política do relator, que deseja ser o único protagonista de uma investigação de tamanha relevância.

No início da tarde, Renan teria chamado os colegas para uma reunião em seu gabinete, mas a negativa foi unânime. O presidente da comissão, senador Omar Aziz, que em vários momentos das audiências deu apoio ao relator, sobretudo em sessões críticas, se sentiu traído, pois, mesmo sendo ele o presidente, não obteve a cortesia do parceiro em ter acesso primário ao documento, cujos trechos foram publicados no fim de semana.

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A cisão na CPI ocorre no pior momento, pois a leitura do relatório é o ato derradeiro das investigações. Há consistências, mas há suspeita de Renan, além de jogar para a plateia, ter superestimado alguns pontos, como genocídio dos índios, o que os demais parlamentares, a despeito da gravidade dos fatos, consideram um exagero.

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Há uma consensual preocupação de que o relatório do senador alagoano, em vez de ser uma peça capaz de colocar os pingos nos “is” da Covid, cujos desdobramentos podem ter forte repercussão na política e na instância judicial, seja um texto moldado pelo viés ideológico, com risco de ser embargado de plano pelo Ministério Público, a começar pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.

É provável que o texto seja refeito, principalmente por ter um longo distanciamento de um documento paralelo também gestado nos bastidores da CPI. Enquanto o clone tipifica o presidente Jair Bolsonaro num determinado número de infrações, o de Renan é bem mais extenso, mas em alguns pontos é formado por meras suposições.

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Todos sabem como comissões de inquérito começam, mas seu desfecho é uma peça imprevisível, e o que ora ocorre não foge à regra. Quando instalada, a CPI da Covid tinha como meta apurar responsabilidades e transações pouco republicanas ante a maior tragédia sanitária das últimas décadas. Sua conclusão, pois, deve se dar em grande estilo, com tipificação de crimes, desde que solidamente comprovados, e propostas para garantir que os ilícitos apurados – com a punição dos responsáveis – não mais se repitam.

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