Números atualizados indicam que no Brasil morrem 47 mil pessoas por ano vítimas de acidentes de trânsito. Mais do que conflitos formais que se espalham pelo mundo. A despeito disso, não há indignação. A população e as autoridades se compadecem – com razão – com as mortes no Oriente Médio, com as tragédias da natureza, mas se recusam a avaliar o que passa pelas ruas e pelas rodovias do país, nas quais se forma um cenário de guerra se contadas as ocorrências. E com um agravante: a maioria dos casos fica impune. Até mesmo aqueles em que os autores são presos em flagrante e sua ação tipificada como dolosa, pois respondem em liberdade.
As punições foram agravadas com o aumento das multas e pontuação na carteira, mas a falta de educação no trânsito continua sendo uma realidade. A Semana Nacional do Trânsito, iniciada nessa segunda-feira, deve servir para ampliação das discussões sobre o que precisa ser feito para reduzir estes números. O país está no topo entre aqueles cujo trânsito mais mata. As imagens que chegam cotidianamente ao noticiário são a prova material da insanidade que se estabeleceu nas ruas. O mais recente episódio foi o atropelamento com morte de quatro pessoas que estavam socorrendo uma outra vítima de acidente. O autor foi preso, mas vai responder em liberdade.
Mas há outras combinações que levam às tragédias. As estradas brasileiras, com exceção das privatizadas, são um cenário perfeito para acidentes: não têm sinalização, o acostamento não existe, e os buracos são um desafio permanente para os motoristas. O Dnit, a quem cabe a execução de obras, se mostra ineficaz, sobretudo por ser, como a maioria das unidades públicas, loteado pelos políticos, que fazem dele seu reduto sem a preocupação com resultados. As agências reguladoras, a quem cabe a fiscalização, também perderam seu sentido quando entraram no mesmo pacote.
As perspectivas, pois, são as piores possíveis, porque, mesmo com eventos como a Semana Nacional, o trânsito ainda não é prioridade das instâncias de poder, mesmo com dados tão perversos que, por si só, seriam suficientes para reflexão permanente e adoção de medidas para reverter tal estatística.
Em Juiz de Fora, irá focar a ação em cima da cidadania, mas também pretende dar fim ao recorrente discurso da indústria da multa, que costuma ser utilizado com frequência na instância da política. Essa indústria, se é que existe, é porque há o infrator. Sem ele, não há multas.