Os organismos de governo que lidam com recursos, como o Banco Central, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, frequentemente têm feito campanhas para o resgate de dinheiro parado em seus caixas. A prática não é incomum da mesma forma que o “esquecimento” de dinheiro em caixa num momento em que a maioria dos brasileiros vive às margens da inadimplência.
Na edição de ontem, a Agência Estado, do grupo Estado, revelou que uma única pessoa tem R$ 11,2 milhões “esquecidos” disponíveis para saque no Sistema de Valores a Receber (SVR), ferramenta do Banco Central que mostra recursos deixados por clientes em contas bancárias, consórcios ou outras instituições. Essa é a maior cifra disponível para resgate entre pessoas físicas. Já entre pessoas jurídicas, o valor mais alto disponível é de R$ 30,4 milhões.
Diz a AE. “Esses valores, ‘esquecidos’ em instituições financeiras, voltaram à tona nos últimos dias após a Câmara dos Deputados ter concluído, na semana passada, a votação do projeto de lei que mantém a desoneração da folha de pagamento de empresas e municípios em 2024, prevendo a reoneração gradual a partir de 2025. O texto prevê que o Tesouro Nacional possa se apropriar de valores esquecidos em instituições financeiras como uma das medidas compensatórias à desoneração.”
A análise fria do fato joga a responsabilidade para o beneficiado leniente, que deixa cifra de tal monta nas mãos do governo. Mas não é bem assim. Uma expressiva parcela de brasileiros desconhece plenamente as regras do sistema bancário e não entende os complicados extratos, que apresentam tantos números que o cliente desiste de avaliar todo o seu conteúdo.
E não há nenhuma iniciativa que implemente ações de esclarecimentos para a população, sobretudo a que não tem acesso aos dados digitais. Basta o governo anunciar liberação que os beneficiários correm atrás. Afora isso, desconhecem o direito guarnecido nos bancos.
Entre esses eventuais beneficiários, muitos não tem habilidade digital seque para fazer verificações. Ademais, diante de tanta oferta, muitos aplicam seus recursos e esses acabam se perdendo na burocracia bancária. De acordo com o Banco Central, “o valor total de “dinheiro esquecido” chegou a R$ 16,2 bilhões, sendo que R$ 8,56 bilhões ainda não foram sacados. Segundo os dados do BC, 41,8 milhões de beneficiários têm quantias a receber disponíveis em 52,24 milhões de contas. O número de contas é maior do que o de beneficiários pelo fato de uma mesma pessoa ou empresa ter valores diferentes para receber em mais de uma conta. Algumas têm mais de R$ 1 mil disponíveis”.
Ademais, com raras exceções como o milionário que desconhece sua fortuna, e da faixa dos mil reais, a maioria das contas tem saldo que nem sempre compensa o esforço, ficando na casa dos R$ 100. Num primeiro momento, quando é feito o anúncio de dinheiro retido, cria-se a expectativa e a esperança de fazer algo com o benefício. Na hora do saque, ressalvadas as exceções, prevalece a frustração.