A despeito da crise, há sempre espaço para ficar pior ainda. Esse é um discurso recorrente em Brasília após as novas denúncias envolvendo o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Por protesto e até mesmo para utilizar a velha tática na qual o ataque é a melhor defesa, ele já antecipou que irá retaliar o Governo, como se essa fosse a causa de todos os seus problemas. O parlamentar foi acusado pelo lobista e delator da “Lava jato” Júlio Camargo de ter recebido US$ 5 milhões em propina, para assegurar contrato com a Petrobras. Ele negou e disse que o delator mentiu, atribuindo o depoimento a uma operação conjunta entre Governo federal e Procuradoria-Geral da República.
A extensão das ameaças do presidente da Câmara ainda é uma incógnita, mas, pela experiência de suas primeiras ações, virá chumbo grosso, pois ele não é do tipo de político que cai sozinho. Custou a chegar à presidência do Legislativo e será mais difícil ainda apeá-lo do cargo, o que inspira uma profunda discussão. Como o presidente do Senado, Renan Calheiros, vive situação semelhante, também acusado na mesma operação, o Congresso tornou-se a bola da vez nas denúncias.
O lado perverso desse enredo é que faltam mocinhos para levar a discussão adiante sem colocar em xeque a força das instituições. Fragilizado, o Governo não tem agenda para reverter o jogo. Sob pressão, o Legislativo também entra na mira da opinião pública, criando-se, dessa forma, um cenário de incertezas, no qual será fundamental o debate republicano do que hoje está acontecendo. Tanto as bases quanto as oposições devem estar maduras nas suas considerações, não havendo espaço para o jogo voltado para as arquibancadas, próprio daqueles que se aproveitam de momentos de crise. O resultado pode ser ruim para todos os lados.