A falta de líderes capazes de agir em momentos de instabilidade tem sido um problema constante na política nacional, embora tais impasses não se esgotem no Parlamento ou no Governo. Outras instituições também carecem de “bombeiros” para apagar o fogo amigo, mas suficiente para criar momentos de apreensão. O Supremo Tribunal Federal, a quem cabe a guarda dos preceitos constitucionais, vive um momento preocupante, pois envolveu-se num embate que saiu dos autos para se tornar um enfrentamento de instituições e numa fonte de desgaste. A censura imposta a dois veículos de informação foi apenas a ponta do iceberg que se revelou mais ainda com a decisão do presidente Dias Toffoli de recusar as recomendações da Procuradoria-Geral da República, quando esta pediu o arquivamento de um inquérito aberto por ele próprio sem consultar os demais colegas de STF.
O tema tem sido tratado longe do plenário, numa jornada em que o presidente da Corte conta com o respaldo de seu colega Alexandre de Moraes, que toca o caso adiante sem se importar com as consequências. Mas há ou haverá um preço a ser pago. Quando um órgão da magnitude do Supremo – a última instância da Justiça – se envolve numa peleja menor, há sempre o efeito colateral em outros segmentos.
Embates de tal ordem e outros escorregões nas instâncias de poder apontam para a necessidade de se frearem os ânimos. As ruas perguntam “cadê o bombeiro?”, pois os líderes tentam apagar fogo com gasolina, num momento em que o país tenta se colocar nos trilhos.
Com um projeto como a reforma da Previdência numa fase crucial na Câmara dos Deputados, as crises formadas em outras instâncias comprometem o foco a ser dado na matéria de maior relevância dos últimos anos. A reforma é uma necessidade, mas, diante de tantas crises, a atenção que lhe deveria ser dada se dispersa.
O feriadão, que para boa parte dos brasileiros já começa nesta quinta-feira, pode ser um momento para reflexões, sobretudo dos atores que estão envolvidos nas muitas polêmicas de Brasília. O que menos se espera, agora, é perder a chance de se fazer uma mudança substancial na economia por conta de idiossincrasias daqueles que são eleitos ou pagos para dar soluções.