Nem mesmo o feriadão, que para muitos começou na quinta-feira, arrefeceu o noticiário político em torno da Odebrecht; ao contrário, surgiram novas denúncias, agora também em vídeo, que apontam para um “terremoto” no Congresso, com o envolvimento de suas principais lideranças, e no Executivo, com o atual presidente e seus antecessores citados como beneficiários de repasses de campanha.
Há, é fato, uma perigosa mistura entre aqueles que seguiram as regras do jogo, pedindo apoio empresarial quando era permitido, e ficaram só nisso, e aqueles que, mesmo sob as antigas leis, permutaram apoio, ora abrindo licitações para o benefício dos doadores, ora dando concessões desmesuradas para seus empreendimentos. E ainda tem os que fizeram negócio em proveito próprio, trocando o mandato por recursos drenados para contas no exterior em nome de laranjas.
Essa separação é fundamental para que não haja injustiça nos julgamentos, inclusive da opinião pública, hoje totalmente engajada no noticiário e surpresa, a cada dia, com o surgimento de novas denúncias. Demonizar a política é precedente perigoso, pois, em vez de pacificar o país, pode induzir ao surgimento de salvadores da pátria, prontos para vender um discurso de moralização.
Essa experiência já foi vivida na primeira eleição após a ditadura, quando o então governador de Alagoas, Fernando Collor, se apresentou aos brasileiros como o “caçador de marajás”, personagens que ganhavam salários estratosféricos no serviço público, com um discurso de mudanças. Deu no que deu, a começar pelo pacote econômico que confiscou a poupança da população. Collor foi cassado, mas não tomou jeito. Agora, como senador, está entre os envolvidos na Lava Jato.
Ainda há as delações dos executivos de outras construtoras que seguiam o mesmo manual da Odebrecht, sinalizando para fatos ainda não revelados. Que sejam, mas também é necessário manter o país no curso, a fim de colocar em pauta as reformas, sobretudo a política, para aplicação já nas eleições de 2018.