Numa das últimas reuniões ministeriais, o presidente Lula teria orientado aos seus ministros para que sejam prudentes na campanha eleitoral, reconhecendo que, com uma base tão ampla, boa parte estará em palanques que não sejam do Governo, a começar pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. Seu partido, o PSB, vai apoiar a deputada Tabata Amaral; o presidente, por ser filiado ao Partido dos Trabalhadores, vai apoiar Guilherme Boulos, do PSOL.
Tal cenário é próprio de presidencialismo de coalizão, no qual o Governo não administra apenas com os seus. Na história recente não há casos de um só partido ocupar todos os ministérios, ante a necessidade de outras legendas para ter sustentação suficiente no Congresso para aprovar suas pautas. No caso atual, haverá paradoxos, com ministros, em suas bases, apoiando candidatos bolsonaristas. Na reunião, o presidente disse que os ministros não devem se esquecer que são ministros e fazem parte do mesmo Governo.
Em algumas regiões a disputa deve ocorrer num ambiente republicano, mas não dá para esperar um comportamento unânime e civilizado. No Brasil profundo o jogo é bruto e nas capitais os interesses costumam falar mais alto. Os próprios candidatos serão induzidos a fazer alianças que vão além de suas legendas, como é o caso do próprio PT paulista, que repatriou a ex-prefeita Marta Suplicy para dar sustentação a Guilherme Boulos, especialmente na elite da cidade mais rica do país. Marta praticamente saiu pela porta dos fundos quando deixou o PT. Agora, volta com aval das principais lideranças, a começar pelo presidente.
Mas fora do poder o jogo também se manifesta. O ex-presidente Jair Bolsonaro, ao explicitar seu incômodo com um comentário do presidente do PL, Waldemar Costa Neto, que elogiou Lula, agiu de olho na base, a fim de conter os possíveis danos da declaração. O que ele deixou claro ao presidente de seu partido é que não há margem para elogios: inimigo é inimigo.
As eleições municipais, em tese, são disputas paroquiais, nas quais o eleitor está mais preocupado com as demandas de sua rua do que com o que ora ocorre nos gabinetes de Brasília. No entanto, a polarização inaugurada em 2018 e ampliada em 2022 mudou essa configuração. O jogo político ganhará contornos nacionais a partir dos principais líderes, no caso, Lula e Bolsonaro, que, estrategicamente, fazem questão de manter a polarização.
O que ora se anuncia é apenas um ensaio para 2026 estando ou não o ex-presidente Bolsonaro na lista de candidatos. Não só no Brasil, mas em expressiva parcela das democracias, há uma profunda discussão. Nos Estados Unidos, se a eleição fosse hoje, o ex-presidente Donald Trump seria pule de dez para retornar à presidência. Sua preocupação – em vez do presidente Joe Biden – reside nos inúmeros processos em curso em várias instâncias da justiça americana.
Na edição desta quarta-feira, o Portal Meio relata a preocupação dos europeus com um segundo mandato de Trump, temendo impactos sobre comércio internacional e a retirada do apoio dos Estados Unidos aos esforços de segurança do velho continente. Para Trump, a América vem em primeiro lugar.