Com a participação dos dirigentes das duas maiores potências do planeta – Joe Biden, dos Estados Unidos, e Xi Jinping, da China, além de tantos outros -, o Brasil será sede nos próximos dois dias da reunião do G-20, com o desafio de pautar o debate internacional em torno de bandeiras relevantes, como o combate à fome e à pobreza, o desenvolvimento sustentável nas três dimensões – econômica, social e ambiental – e a reforma da governança global.
As discussões vão ocorrer às vésperas de uma mudança de comando nos Estados Unidos, cujo próximo presidente é avesso a temas ambientais, por entender que a instabilidade climática é mais uma peça de ficção do que um dado real. E é aí que entra o Brasil. O país é um dos líderes da discussão e terá que se precaver para uma guinada abissal no debate internacional.
Quando se fala em redução no uso de combustíveis fósseis, Donald Trump vai no caminho inverso e já anunciou investimentos para aumentar a produção de petróleo. Há uma série de impasses pela frente, que, certamente, deve entrar no G-20. Há outros, como a economia global. O dirigente americano, quando defende uma “América grande outra vez”, aponta para investimentos internos, fechando a porta para o intercâmbio econômico.
Seu olhar isolacionista vê os parceiros de forma distinta da gestão Biden, com quem o presidente Lula deve se encontrar ainda neste fim de semana e na conferência que acontece nos próximos dias.
Além da economia, a questão ambiental é o dado mais preocupante, pois os sinais são nítidos de que há algo fora do lugar. Um deserto do Saara com novos oásis é uma boa notícia, mas indica que o clima mudou. Chuvas acentuadas já em outubro e setembro caminham pela mesma rota.
E aí, a despeito do que for decidido no G-20, é mister discutir o planejamento das cidades ante a chegada do período mais crítico de chuvas. Todas as previsões apontam para um verão de temporais, que, certamente, causarão danos nas regiões menos envolvidas em políticas de prevenção.
Na última quarta-feira, o rompimento de uma represa causou sérios danos na cidade de Venda Nova, que faz parte da Região Metropolitana de Belo Horizonte. A Região Sudeste tem recebido alertas que não podem ser desconsiderados, sobretudo pelo histórico de problemas fruto da topografia acidentada e da ocupação desordenada das encostas.
Os assuntos estão interligados. Ao mesmo tempo em que se avalia o ciclo das águas que ora começa, o G-20 é também uma oportunidade para captação de recursos para o saneamento das cidades e para a recuperação das áreas degradadas na Amazônia, resultado da ação humana.