Já pensando em 2022, e também além dele, diversos partidos estão intensificando suas articulações para aumentar suas bancadas no próximo pleito. Ter mais deputados significa mais tempo de propaganda no rádio e na TV e ainda mais recursos do Fundo Partidário, tentadora composição que mobiliza corações e mentes dos caciques partidários. O PP e o PL, embora não falem em fusão, já admitem montar uma federação para os próximos quatro anos, o que implicaria a busca de uma bancada bem mais expressiva no Congresso. Os “cardeais” Waldemar da Costa Neto e Ciro Nogueira, sob as bênçãos do presidente da Câmara, Arthur Lira, tiveram uma longa conversa na semana que terminou.
Propósito semelhante resultou na fusão do PSL com o DEM, criando, mesmo que por um momento, a maior bancada na Câmara Federal. É fato que os números vão mudar com a resistência ao “casamento” de parlamentares de ambos os lados. A União Brasil, nome da futura legenda, tem planos de candidatura própria à Presidência da República, mas, se não der certo, não terá constrangimento em buscar um nome de centro.
Já o PSD, do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, atua no sentido de atrair quadros qualificados, a fim de garantir mais visibilidade no Congresso. Tem como uma de suas estrelas o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, mas corteja outro Rodrigo, o Pacheco, atual presidente do Congresso Nacional. O político mineiro mantém um silêncio estratégico, mas suas ações e seus discursos não escondem a pretensão de ser um nome da esperada terceira via.
No presidencialismo de coalizão, tais alianças são vitais não apenas para a governabilidade, mas também para garantir ao presidente, ou à presidenta, um mandato sem solavancos, algo que somente Fernando Henrique e Lula conseguiram na jovem democracia brasileira. Fernando Collor caiu e foi substituído por Itamar Franco. Dilma Rousseff foi apeada do cargo para dar vaga a Michel Temer. Este, com melhor jogo de censura, sobreviveu aos diversos pedidos de impeachment de seu mandato, enquanto Jair Bolsonaro tem o Centrão como escudo em três anos e meio à frente do Governo.
A lição a ser tirada envolve o debate ideológico que passa distante de tais movimentações. Os partidos agem por conveniências, e tais articulações, por mais que deem certo, levantam a desconfiança do eleitor. A prova está na sistemática queda de prestígio dos partidos políticos. Os jovens, especialmente, os consideram suspeitos em suas ações e explicitam claramente tais sentimentos nas pesquisas envolvendo a instância política.
O Parlamento já teve mais de uma chance para melhorar o processo de representação política, mas as reformas ora não são implementadas, ora são resultado de acordos pragmáticos, nos quais o eleitor permanece apartado enquanto as propostas se voltam, quase sempre, para o público interno das legendas.