A prisão de engenheiros da Vale do Rio Doce é uma mudança de parâmetros no tratamento de tragédias no país, pois indica um endurecimento cobrado pela própria opinião pública, já cansada de ouvir relatórios e outros discursos em torno de tais fenômenos sem que punições sejam implementadas, quando muito, só na instância financeira, com multas irrisórias.
Mas a prisão provisória dos engenheiros, um deles diretor, não encerra a questão, pois é fundamental avaliar a cadeia de comando e imputar penalidades aos responsáveis pelos laudos, dando garantias de segurança à represa cujo rompimento matou mais de 160 pessoas e deixou outro tanto desaparecido. A corrupção implica, necessariamente, dois polos: o ativo, que toma a iniciativa, e o passivo, que aceita a pressão em troca de algum proveito.
Os técnicos que evidenciaram a pressão deveriam, em vez de assinar, ter denunciado a iniciativa dos representantes da empresa ao Ministério Público. Se isso tivesse ocorrido, provavelmente a tragédia teria sido evitada. Mas assinaram, temendo represálias, ou por ordem de seus chefes. Tudo isso, porém, só deve vir à tona após o final das investigações.
Ao mesmo tempo, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, tropeça nas próprias palavras ao dizer que a empresa “é uma joia brasileira, não pode ser condenada por acidente”. É de se imaginar que ele desconhece a dimensão da tragédia e sequer sabe que vidas não têm preço. É de conhecimento público o papel estratégico da empresa na economia do país, não só na geração de recursos, mas também de empregos, mas, quando ele diz “por um acidente”, soa como se fosse um mero caso em que não se contam vidas nem os danos ambientais.
Há quatro anos, o rompimento da barragem de Mariana, com saldo de 19 mortes e um incalculável prejuízo ambiental, já deveria ter sido motivo de duras punições. O de Brumadinho é muito mais grave para ser um mero acidente, como destacou diante de congressistas o CEO da empresa. Melhor se tivesse se silenciado.
O que se coloca em pauta são medidas mais rigorosas para o negócio de mineradora, por ser de risco não apenas para seus funcionários mas também para a comunidade. A Vale é um dos principais ativos brasileiros, mas não está isenta de cumprir regras de segurança que até agora têm sido negligenciadas.
Nesse ciclo de discussão, especialmente entre os mineiros, é hora de se colocar em pauta também o uso de risco da BR-040 pelos caminhões das mineradoras. Com tantos recursos, deveriam ter uma via própria para escoar sua produção. A convivência entre veículos comuns e as gigantes unidades com minério é um problema permanente, sobretudo no trecho entre Conselheiro Lafaiete e o trevo de Ouro Preto. A questão está na mesa.