O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusou o Governo, especificamente o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de ordenar a ação da Polícia Federal, que ontem fez uma busca geral em sua residência oficial e na casa de assessores e até de ministros de estado, coincidentemente, todos do PMDB. Para o deputado, a operação ocorreu no mesmo dia em que o Conselho de Ética da Câmara definiu a continuidade do processo contra ele, numa apertada votação de 11 votos a nove. O que Cunha não disse é que a ação da PF foi em decorrência de pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki. Nessa, o ministro da Justiça está fora. O parlamentar usa a teoria da conspiração para sair do foco das investigações de seus próprios pares e até já anunciou que irá defender a anulação da sessão de ontem. Por ironia, a prerrogativa é do próprio Cunha, que, em nome de uma falsa ética, deve pedir ao seu vice para adotar a medida.
O jogo político em Brasília, aberto em duas frentes, tem combustível suficiente para garantir a continuidade dos trabalhos por um longo tempo. Embora Cunha queira adiar seu caso, e a presidente Dilma tem pressa em definir a sua situação, o tom beligerante do Congresso criou um clima no qual os nervos estão à flor da pele. Deputados e senadores – especialmente os primeiros – usam todos os meios para garantir espaço nas discussões, enquanto o Conselho de Ética, como definiu o deputado Júlio Delgado, mais parece um circo do que uma instância de deliberação sobre a atuação dos deputados.
É provável que a semana que vem reduza a temperatura, já que a maioria retornará aos seus estados para as celebrações de fim de ano, mas, num cenário com tantas decisões pendentes, ficar em recesso até fevereiro é temerário, pois, aí sim, dará espaço para os conspiradores de plantão se apresentarem nas discussões.