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Mútua responsabilidade

editorial
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Ainda no seu primeiro mandato (1994-1998), o ex-presidente Fernando Henrique implementou o Plano Nacional de Desestatização, cuja meta era reduzir o tamanho do estado e garantir mais eficiência nas empresas estatais por meio do controle privado. Foi assim a telefonia, que mudou todo o seu perfil, e hoje, diante da concorrência entre as operadoras, subiu de patamar. O velho modelo estatal saiu de cena, dando fim a dramas de se esperar meses e até anos para se conseguir a propriedade de um aparelho. No dia a dia, esperava-se minutos para obter um sinal para ligação.

O que ocorreu com a telefonia não foi repetido no sistema de energia elétrica a despeito dos avanços em relação ao modelo anterior. Mas há muito a ser feito. Desde sexta-feira, São Paulo, a maior cidade da América do Sul, tem pontos sem energia em decorrência das fortes chuvas e dos ventos que assolaram a capital.

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A Enel, empresa italiana que comprou cerca de 73% das ações da Eletropaulo, em um negócio de R$ 5 bilhões, assumiu o controle coma proposta de dar um salto na distribuição no Brasil por meio de concessões também no Rio de Janeiro, Ceará e Goiás, atendendo 486 cidades nestes estados. Agora, diante dos recentes episódios, tem a sua concessão questionada pelo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e pelo governador Tarcísio de Freitas, ambos apontando para a ineficiência do trabalho.

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Mas se a situação chegou a esse ponto não se deve imputar a responsabilidade única e exclusivamente à concessionária. Quando iniciou o Plano Nacional de Desestatização, a gestão Fernando Henrique criou as agências reguladoras, cujo objetivo era garantir um equilíbrio entre os interesses dos consumidores, do governo e das empresas privadas.

As agências deviam, também, estabelecer uma regulação técnica e econômica com regras para o funcionamento das empresas privadas que se habilitassem a atuar em setores essenciais como energia, telecomunicações e transportes. Entre essas agências foi criada Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), pela Lei 9427, de 26 de dezembro de 1996.

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Na fase inicial funcionaram dentro das expectativas, uma vez que seus quadros eram eminentemente técnicos, apartados do viés político. No entanto, com o decorrer do tempo, o próprio governo FH começou a ceder ao apelo político, especialmente quando articulava a reeleição. Com isso, começou o perverso processo de aparelhamento das agências que foi seguido pelos demais gestores, independentemente da linha ideológica.

Uma das consequências é a que ora se explicita na pane paulista. O governador e o prefeito denunciam a ineficiência da empresa, mas quem deveria denunciar essa possível inação é a ANEEL. O que as autoridades cobram, agora, é a explicação de quem deveria fiscalizar.

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Enquanto não for retomado o modelo original, não apenas o sistema de energia estará sujeito a riscos. A telefonia e os transportes, outras áreas estratégicas, também estarão sujeitas a problemas semelhantes.

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