A ser verdade o que anda se especulando em Brasília – um armistício com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pelo qual ele barraria os pedidos de impeachment da presidente, tendo em troca votos favoráveis no Conselho de Ética, que pode cassar seu mandato -, a situação é mais crítica do que parece. Dois dias antes, diante de uma plateia formada por cerca de dois mil representantes da CUT, Dilma disse em alto e bom som que não se submeteria aos moralistas sem moral que querem tirá-la do poder. Falou grosso, mas, se o fato ocorre, autorizou negociações com o parlamentar peemedebista.
Acordos desse naipe costumam dar resultado num primeiro momento, mas implicam um alto custo para as partes envolvidas. Eduardo Cunha teria pedido votos favoráveis no Conselho de Ética, além da redução das operações da “Lava jato”, que apontam atos pouco republicanos não só dele mas também de sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz. O Governo só pode entregar o pacote de sua competência, mas não tem meios de agir na instância do Judiciário.
O resultado dessas articulações será visto em breve, já que os pedidos de impedimento continuam entrando na agenda da Câmara, exigindo manifestações do presidente do Legislativo. O eleitor comum não é ingênuo e perceberá de pronto se houve ou não algum acordo, o que deixa em aberto a relação das ruas com as instâncias de poder, podendo a conta ser cobrada não apenas por manifestações mas também por meio do voto nas eleições do ano que vem, embora essas sejam para renovar prefeituras e câmaras municipais. Valerá o recado.