Quando foi divulgada a existência de um vírus com alto grau de letalidade na China, no final de 2019, foram poucos os que levaram a sério a informação. Afinal, era uma ocorrência no interior de país do outro lado do planeta, sem qualquer chance de se replicar pelo mundo afora. Este foi o primeiro erro. Em fevereiro de 2020, os primeiros casos chegaram à Europa, especialmente à Itália, com grave repercussão. O número de vítimas fatais era fora de qualquer padrão até então registrado. Milão, uma das mais importantes cidades do país, foi fechada para conter o surgimento de novos casos.
Foi uma medida necessária, mas sem os resultados esperados, pois o vírus se espalhou pelo país afora, tornando a Itália o epicentro de propagação da doença. Os países vizinhos viriam depois. No Brasil não havia preocupações. Milhões de pessoas foram às ruas para celebrar o carnaval sem adotar qualquer precaução.
O cenário só começou a mudar quando foi registrada a primeira morte pela doença. No dia 12 de março de 2020, o ministério da Saúde confirmou o óbito de uma mulher de 57 anos que havia sido internada no dia anterior em um hospital da capital paulista. O resto da história todos conhecem.
Na última quarta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o cenário de mpox no continente africano constitui emergência em saúde pública de importância internacional em razão do risco de disseminação global e de uma potencial nova pandemia. Este é o mais alto nível de alerta da entidade. Em coletiva de imprensa em Genebra, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou que surtos de mpox vêm sendo reportados na República Democrática do Congo há mais de uma década e que as infecções têm aumentado ao longo dos últimos anos. Em 2024, os casos já superam o total registrado em 2023 e somam mais de 14 mil, além de 524 mortes.
Mpox é o novo nome adotado pela OMS para a antiga varíola dos macacos (monkeypox em inglês). O atual surto de mpox é mais preocupante do que os anteriores porque envolve uma nova variante do vírus, que os especialistas dizem ser a versão mais perigosa que já se viu. No Brasil, 709 casos e 16 mortes por mpox foram notificados em 2024.
Embora não haja indícios de uma pandemia nas proproções da Covid, é correta a decisão do Ministério da Saúde ao agir sob o viés da prevenção e instalar um Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para coordenar as ações de resposta à mpox no Brasil. Não há espaço para a leniência, sobretudo diante da experiência com a Covid, quando muitos setores rejeitaram as suas consequências e, numa fase posterior, ficaram contra a necessária vacina. Agir sem alarmismo é fundamental.
A imunização contra a mpox já é possível desde 2023, durante a primeira emergência global pela doença, com o uso provisório de uma dose liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas é preciso avaliar a nova cepa e avaliar a eficácia da vacinal disponível para os casos recentes.
A lição tirada durante a Covid deve nortear as ações do governo e da sociedade, pois, se houver ações imediatas, não há risco de se repetir a tragédia que matou milhões de pessoas pelo mundo e pulverizou economias.