A saúde é uma rubrica de financiamento intensivo, que implica, necessariamente, financiamento permanente para a sua implementação. E qualquer recurso a mais é sempre importante, como ora ocorre em Juiz de Fora com a decisão da Câmara Municipal de devolver cerca de R$ 4 milhões – levando-se em conta um novo repasse ainda este ano – aos cofres da Prefeitura. Na justificativa, o presidente do Legislativo, Luiz Otávio Coelho, pediu ao prefeito a prioridade para a saúde, embora não se trate de um retorno carimbado.
O prefeito Antônio Almas, médico por formação, conhece o problema e já antecipou o acolhimento da proposta. Ainda na semana que terminou, a Câmara, por meio de emendas dos vereadores, carreou boa parte das verbas para a recuperação do PAM-Marechal, espaço estratégico no atendimento à população.
Juiz de Fora é reconhecidamente um centro de referência na saúde, o que faz dela, além do atendimento da demanda local, porto seguro para pacientes de toda a Zona da Mata e até mesmo do vizinho Rio de Janeiro, ainda mais agora que o estado fluminense vive dias de plena dificuldade para financiar o atendimento.
A cidade do Rio de Janeiro está no centro do noticiário diante do caos que se instalou no município, a despeito da antecipação feita pela União em torno de R$ 150 milhões. Os muitos anos de descaso agora entram na conta da população.
Este tem sido um dos pontos que carecem de discussão. O investimento na saúde não se faz apenas por espaços físicos, exigindo, também, políticas públicas que coloquem em prática a sua estrutura. Em Juiz de Fora, há dois hospitais em construção que ainda estão no papel. O Hospital Regional, de iniciativa do Estado, só deve ter sua situação resolvida se o governador Romeu Zema – como ele mesmo disse em entrevista à Tribuna – conseguir a inserção dos hospitais no pacote de verbas da Vale do Rio Doce num processo de indenização pela tragédia de Brumadinho.
O Hospital Universitário também está na dependência de articulações. Em visita a Juiz de Fora, dirigentes da Ebserh, empresa que controla tais unidades, avaliaram, com a UFJF, a possível conclusão de todo o projeto nos próximos três anos. O prazo é longo, mas é melhor ter essa definição do que a incerteza.
Como tem gestão plena do SUS, Juiz de Fora tem ainda o desafio de gerenciar uma instância estratégica no processo administrativo. E a saúde, além de tudo, é marcada pelo paradoxo da eficiência: a qualidade tem implicação direta na procura. E aí também reside um problema: nem sempre os repasses estão à altura da necessidade.