O relato dos bombeiros militares sediados em Juiz de Fora, que estiveram nas áreas devastadas pelas barragens rompidas em Mariana, é a peça mais próxima do que ocorreu na região. Emocionados, revelaram detalhes que o noticiário formal não alcançou, pois foram eles, especialmente, os únicos que estiveram nos pontos críticos da tragédia. E foi algo muito mais grave o que viram, pois, além da paisagem deformada, os corpos espalhados pelo barro apontaram para um cenário de guerra. Experientes na lida quase diária com problemas, muitos deles revelaram que algo como o que se viu no distrito de Bento Rodrigues era inimaginável.
Na sua visita à região, a presidente Dilma, antes mesmo de ouvir as áreas responsáveis pela definição de penas, antecipou que a Samarco, empresa responsável pelo empreendimento, será multada em R$ 250 milhões. É difícil aferir se tais números são ou não adequados, pois há perdas impagáveis, como as vidas de moradores e funcionários da própria companhia. A lição a ser tirada vai além das multas. Há passivos ambientais que precisam ser corrigidos, e há barragens que estão na iminência de repetir a tragédia, como apontam relatórios nem tão recentes. As duas que se romperam, por exemplo, já estavam na lista das advertências desde 2013, mas nada foi feito. Uma terceira (e maior) da mesma empresa está com sinais de rachaduras.
O Brasil tem um expressivo número de barragens em decorrência das minerações espalhadas por Minas e, principalmente, por estados do Norte e do Nordeste, o que exige, de pronto, investigações permanentes. O rompimento de barragens não é algo inédito. Em Minas, já foram vistas experiências idênticas, como em Miraí, há cerca de cinco anos, que até hoje repercute na população pela falta de indenizações. Como o minério é uma das commodities mais importantes, e sua exploração não deve ser interrompida, a segurança dos trabalhadores e das comunidades deve ser reforçada, pois não há dinheiro que pague pelas vidas que são deixadas para trás quando ocorrem acidentes como este.