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Velho esquema

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“A Odebrecht paga caixa dois desde a época de meu pai.” A afirmação do empresário Emílio Odebrecht, lembrando os pagamentos feitos pela construtora desde os tempos do fundador, Norberto Odebrecht, foi a senha que muitos setores queriam para embasar o argumento em defesa de uma anistia ao caixa dois. Trata-se de uma velha prática, que passou por vários pleitos e que só agora está sendo cobrada pelo Ministério Público sob o viés da criminalização. De fato, não é de hoje que o dinheiro privado tem sido drenado para as campanhas políticas, mas a novidade começou quando a contrapartida virou um ataque aos órgãos públicos, como a Petrobras, que se tornou moeda de troca nas perversas relações entre público e privado. Ontem, em entrevista ao jornal “O Globo”, o presidente da empresa, Pedro Parente, confirmou uma dívida de US$ 100 bilhões – a maior do mundo entre as petrolíferas – praticamente impagável, que só será amortizada com a venda de ativos da companhia.

Esse perverso cenário é fruto dos ataques ao caixa da estatal e dos acordos por ela firmados nas relações pouco republicanas que tiveram sua gênese no caixa dois. Esses dados reforçam que não dá para transigir com tal prática nem defender uma anistia, sob o risco de estar privilegiando o infrator. A pressa do Congresso em alterar as regras é o típico caso de mudança no meio do jogo. Algo impensável quando se trata de bom senso. Os políticos buscam uma saída, mas não irão encontrá-la salvo se tangenciarem a atual legislação, que é clara não apenas no texto eleitoral mas também na instância penal, quando estes tratam de benefícios ilícitos.

O país vive várias frentes de discussão que não se esgotam no caixa dois. Hoje, a população voltará às ruas para protestar contra a reforma da Previdência, mas aí a conversa é outra, pois trata-se de uma discussão de interesse coletivo e necessária, já que o atual modelo não garante a sobrevivência do sistema. Mas algumas regras, por sua vez, também não garantem a sobrevivência do contribuinte.

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