No seu retorno ao ciclo de reuniões ordinárias, a Câmara já tem pela frente um tema que precisa, necessariamente, entrar na sua pauta: a possível decisão da Mercedes-Benz de levar o desembaraço das sprinters para o Espírito Santo em razão de melhores condições tributárias. O assunto já vem sendo tratado há algum tempo, mas só agora a multinacional admitiu as conversações. Por isso, como o martelo ainda não foi batido, é possível verificar as possibilidades. A Prefeitura se dispôs a intermediar uma conversa com o Estado, mas é preciso mais, sobretudo quando se buscam na história as concessões feitas pelo Município para ganhar o empreendimento. Não foram poucas.
É fato tratar-se de uma empresa privada, mas, quando entra em jogo a guerra fiscal, as lideranças políticas, em todos os escalões – e os vereadores fazem parte -, devem se manifestar, a fim de criar discussão sobre um tema que tem prejudicado Juiz de Fora desde a gestão Rosinha Garotinho, no Rio de Janeiro, quando ela abriu as portas para a migração de indústrias mineiras para o seu estado com grandes vantagens. Agora é a vez de o Espírito Santo fazer o mesmo, aproveitando, inclusive, a logística de ter um porto e uma aduana.
Homem de negócios, o governador Romeu Zema conhece bem esse jogo, pois sabe como funciona a lógica empresarial diante de benefícios fiscais. Minas, o estado que ora dirige, tem uma das mais altas taxas de ICMS do país, o que pode ser uma vantagem na hora da arrecadação, mas um problema na outra ponta. Muitos empreendimentos desistiram de se instalar em terras mineiras por causa da tributação, e outros tantos migraram também pelo mesmo motivo.
O velho instinto tributário, que começou ainda no ciclo do ouro, parece ter se enraizado em Minas, ao contrário de outras regiões que ganham na escala, isto é, têm taxas menores, mas apresentam um elenco mais expressivo de contribuintes. Num momento em que a economia estadual tem problemas, agravados pela tragédia de Brumadinho com reflexos diretos na Vale do Rio Doce, abdicar de investimentos é temerário.
Desde o ano passado, há um silêncio abissal na M. Dias Branco, a maior produtora de massas do país, com planos de instalar uma de suas unidades em Juiz de Fora. A resistência do Governo do estado em construir uma via de acesso pode ter um preço alto para o município com a possível decisão do grupo de desistir do negócio. Por isso, é fundamental insistir com a Mercedes, pois a economia municipal, já combalida pela crise econômica nacional, não suportaria ficar sem dois grupos de grande porte, com forte influência nos repasses municipais.