A decisão do Governo de Minas de não dar continuidade às obras do Hospital Regional – paradas desde 2017 – não chegam a surpreender, mas dão margem para se discutir não apenas o futuro do empreendimento, que tinha 71% das obras concluídas, mas também qual seria, a partir dessa medida, o papel do Estado nos programas de saúde de Juiz de Fora e da região.
A nota distribuída pelos secretários Fábio Baccheretti, de Saúde, e Pedro Bruno Barros de Souza, de Infraestrutura e Mobilidade e Parcerias, aponta para o encaminhamento de parte dos R$ 150 milhões, reservados para a retomada das obras, para o projeto de ampliação do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora. Os secretários revelam, na nota encaminhada à prefeita Margarida Salomão, terem sidos convidados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Edserh) a destinar recursos para a compra de equipamentos.
O argumento central da nota técnica do Governo de Minas foi o comprometimento da infraestrutura do prédio. Ele foi vandalizado e, por força do tempo, deteriorado. “Vários equipamentos que já haviam sido instalados foram danificados ou furtados, indicando que as obras sejam refeitas. Além disso, o laudo colocou em dúvida a solidez do edifício para utilização”.
A Tribuna acompanha o projeto desde o início e, por mais de uma vez, já tinha advertido para o sucateamento do prédio, ora por ação de vândalos, ora por conta da exposição ao tempo. Sem qualquer proteção, o espaço, atualmente, é um acumulador de áreas problemáticas, propícias para a reprodução do mosquito da dengue.
Por um período, as obras chegaram a ser retomadas, mas, pela falta de repasses estaduais, pararam em várias etapas, deixando um passivo que ainda precisa ser discutido. Afinal, como justificar, agora, o emprego de tanto dinheiro para nada. Algum tipo de responsabilidade deve ser considerada, pois, é uma característica intrínseca do Estado, construído com fundos públicos.
Quando o Governo Federal anunciou a retomada das obras do Hospital Universitário, nesse mesmo espaço foi levantada a inviabilidade do Hospital Regional, por concorrer com o HU pelas mesmas demandas. Seria preciso discutir uma nova vocação.
Embora a cidade seja polo de uma região com aproximadamente 1,5 milhão de habitantes, o Hospital Universitário, se executadas todas as metas anunciadas por Brasília, terá meios de atender a todo esse fluxo. Ademais, a cidade também tem uma unidade importante que pode, e deve, ser otimizada pelo próprio Estado. O Hospital João Penido tem papel estratégico nessa discussão, pois pode ser o destino de parte dos recursos estaduais que estavam previstos para o Hospital Regional.
No entanto, as autoridades estaduais precisam se sentar com as lideranças da cidade e da região para, além de dar satisfação pela decisão, avaliar o que pode ser feito daqui por diante. Decisões tomadas por uma única parte são sempre problemáticas, por isso a importância de criar oportunidades para novas opiniões, o que pode levar a um acordo sobre as políticas de saúde da Zona da Mata, cujos habitantes, consistentemente, vêm para a cidade principal em busca de algum tipo de serviço de saúde.