Como toda operação, a Lava Jato também deve ter um fim, para deixar de ser a espada de Dâmocles no país e garantir que a vida deve ser levada adiante, mas tudo tem seu tempo, e o dela ainda não é agora. Há um caminho adiante que precisa ser trilhado, sobretudo após o acolhimento das delações de executivos da Odebrecht e das demais construtoras envolvidas no caso.
O que chama a atenção é a movimentação lenta e silenciosa da instância política, que teme pelo seu próprio futuro, ou melhor, de alguns de seus figurões que, certamente, vão aparecer na lista. A indicação do senador Edison Lobão para presidir a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, por exemplo, é um escárnio ante a opinião pública, mas emblemática na proteção dos pares. Ele teve seu nome incluído em mais de uma delação, sua residência foi visitada por agentes da Polícia Federal, mas, mesmo assim, foi eleito por unanimidade para comandar a comissão mais importante do Parlamento.
Coincidentemente, o juiz braço direito do falecido Teori Zavascki se afastou do caso, alegando que já tinha feito o pedido antes do acidente que vitimou o ministro nas águas da baia de Angra dos Reis; e, no fim de semana, um dos delegados mais importantes da investigação, envolvido no caso desde o início, foi promovido a corregedor no Espírito Santo. Ele e o juiz conheciam toda a operação.
Pode ser, de fato, obra do acaso, mas a sociedade tem que ficar atenta para essas movimentações, que são imperceptíveis ao olhar comum, mas que avançam pelos meandros do poder. A lista das construtoras chega a nomes acima de qualquer suspeita, o que coloca todos em xeque, mas não há espaço para recuos, agora, mesmo se sabendo, também é verdade, que as investigações devem chegar a um termo, desde que, porém, se apurem todos os fatos que levaram o país a um dos maiores escândalos da sua história recente.