Em 1982, numa de suas muitas conferências pelo Brasil afora, o antropólogo Darcy Ribeiro vaticinava: “Se os governadores não construírem escolas, em 20 anos, faltará dinheiro para construir presídios”. A profecia se realizou. Em palestra sobre o sistema carcerário brasileiro, quando revelou que um preso custa R$ 2,4 mil por mês enquanto um estudante do ensino médio custa R$ 2,2 mil por ano, a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, colocou o dedo na ferida. Em 1969, Pelé, ao fazer o seu milésimo gol, pediu investimento nas crianças, mas não foi compreendido. Ao contrário, o gesto foi considerado uma bobagem do grande jogador.
Darcy Ribeiro e Edson Arantes do Nascimento, tanto na antropologia quanto nos gramados, viram antes a tragédia que se aproximava. Os resultados, como mostrou a ministra, são alarmantes, os cárceres estão superlotados, mas nem assim a população se sente em segurança. Ao contrário, a violência cresce a olhos vistos ante um Estado que, vira e mexe, faz tentativas esporádicas de reverter o jogo. O presidente Michel Temer colocou a questão na mesa, durante encontro com a própria Cármen Lúcia e o senador Renan Calheiros, representando o Judiciário e o Legislativo respectivamente, mas foi apenas um ato simbólico para indicar a volta do tema à agenda oficial.
Os vários estudos indicam que, além do viés repressivo, o Estado tem que agir preventivamente, apontando para ações em várias frentes, inclusive na matriz do problema: a educação. Esta carece de mais investimentos, embora todos saibam que é a saída viável para recondução dos princípios aos seus devidos rumos. Se Darcy e Pelé, em vez de ironias, tivessem sido ouvidos, o cenário, certamente, seria outro. Mas não basta, agora, lamentar, é preciso agir.