Na semana passada, os jornais do Rio de Janeiro chamavam a atenção para o que classificaram de home office do crime. Bandidos das regiões Norte e Nordeste do país estavam se escondendo nas comunidades cariocas, com o aval dos grupos organizados, indicando que as fronteiras de outros tempos já não existem. As organizações estão conectadas e formam uma rede que se espalha pelo país.
Na última terça-feira, a Polícia Federal, em operação conjunta com o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (Gaeco/MPRJ), esteve numa fazenda no município de Lima Duarte, a cerca de 60 quilômetros de Juiz de Fora, para combater uma organização especializada em tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, responsável por movimentar mais de R$ 9 milhões nos últimos anos.
De acordo com os promotores e agentes, a propriedade rural servia de entreposto para o transporte de drogas para a Vila do Pinheiro, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. O responsável pela operação comprou a fazenda Rochedo para executar as transações. O líder da quadrilha em questão dirigia as ações de seus comparsas para a obtenção de veículos e ‘mulas’ que seriam utilizados para o transporte da droga, além da realização das funções de ‘batedor’ da carga ilícita e de ‘laranja’ para a ocultação do patrimônio obtido ilegalmente”, detalha a Polícia Federal, na matéria publicada pela Tribuna.
Trata-se de mais um dado que constata a mudança de perfil do crime e seu avanço para regiões até então infensas a esse tipo de atividade. Hoje, para garantir segurança, o crime organizado está migrando suas operações para longe das metrópoles, que só recebem o produto final. A fazenda em Lima Duarte era apenas um entreposto.
A segurança pública, pois, tornou-se uma agenda necessária em todas as instâncias por conta dessa movimentação do crime. A integração das polícias e o diálogo entre elas deve ser permanente para fazer essa contenção. A despeito da ideologia, trata-se de uma causa que não pode ficar restrita a esse ou àquele governo. A União tem que conversar com os governadores que precisam manter a interlocução com os municípios.
Na sua última reunião, o Consud, consórcio que reúne os governadores de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, recebeu o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para discutir as metas do SUS da Segurança. Tais encontros são importantes, mas os projetos precisam sair o mais rápido possível do papel, a fim de financiar as propostas de segurança desenvolvidos especialmente nos municípios.
A União, no entanto, não deve ser a única gestora do processo: os governos estaduais e os municípios – cada um de acordo com as suas prerrogativas – têm papel assertivo, sobretudo quando os papeis são bem definidos, evitando brigas de competência. Todos estão no mesmo barco, e só com unidade será possível reverter o avanço do crime organizado pelo interior do país.