A morte de quatro crianças em Blumenau, cujo autor já está à disposição da Justiça, deu margem a uma enxurrada de manifestações nas redes sociais que se desdobraram em episódios preocupantes. A solidariedade inicial foi substituída por ameaças, fruto da inconsistência humana. Os autores, muitos em busca de notoriedade – o que não é menos grave -, foram para o mundo digital com uma série de informações no sentido de levar o pânico às escolas.
O Brasil não tem o histórico dos Estados Unidos, mas o que se viu em Santa Catarina foi a constatação de que a globalização também transferiu suas mazelas e chegou ao Sul do Equador. A partir daí, foram cometidos novos atentados, como em Goiás, e outros que estão sob investigação do sistema de segurança. Nesta quarta-feira, o governador Romeu Zema anunciou a implementação de um protocolo de acesso aos prédios escolares, que vai tornar obrigatórias a identificação e a autorização para a entrada de visitantes. Será criado também um canal de comunicação direto entre os diretores de escolas e a Polícia Militar.
As ameaças são um flagelo, pois não podem ser descartadas, e, se levadas a sério, vão cumprir os objetivos de seu autor, que tenta estabelecer o pânico, embora nem sempre vá cumprir o que prometeu. Na dúvida, porém, é preciso tomar precauções, como várias escolas públicas e privadas estão fazendo, sobretudo no sentido de reduzir os danos, chamando a atenção de alunos, pais e responsáveis que não estão infensos ao problema e que acompanham todas as manifestações.
A discussão, no entanto, é bem mais ampla. A despeito de todo o discurso envolvendo a liberdade de expressão – um bem conseguido a duras penas e necessário -, há o outro lado que não pode ser colocado à margem. Quem faz tal tipo de ameaça está exercendo um direito ou cometendo um crime? Na segunda hipótese, o Estado deve ampliar suas discussões com os provedores para dividir responsabilidades. Uma das principais plataformas já foi alertada em mais de uma ocasião para coibir o trânsito de tais ameaças, mas pouco foi feito até agora. O Ministério da Justiça deve publicar uma portaria que prevê multa para as redes sociais que não cumprirem as regras para combater conteúdos que fazem apologia de violência e ameaças de ataques em escolas do Brasil, revelou a “Folha de S. Paulo”.
A sociedade contemporânea tem pela frente uma série de desafios forjados pelo novo modelo de interação. As redes sociais foram um avanço, por reduzir o mundo, facilitar o intercâmbio de informações, mas também têm o seu lado crítico, que se explicita ora nas fake news, ora nas ameaças.
O debate está aberto e não se esgota na instância política. A sociedade precisa participar, por ser ela o ponto central de todo esse processo. Com o implemento da Inteligência Artificial, mais um mecanismo foi acrescentado a esses tempos desafiadores. Alguns estados nacionais admitem algum tipo de regulação; outros, em nome da liberdade de expressão, estão estáticos. Há, no entanto, dados reais que induzem a uma discussão plena, pois em jogo está o futuro, e este tem muitas esquinas que precisam ser contornadas.