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Os muitos desafios de Milei

editorial
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Logo após a sua primeira reunião com a equipe ministerial, o presidente da Argentina, Javier Milei, por meio de seu porta-voz, anunciou as primeiras medidas da gestão inaugurada no último domingo: trabalho presencial em 100%, avaliação dos contratos com o governo e redução do número de ministérios, que de 18 caem para apenas nove. As medidas econômicas devem ser anunciadas nesta terça-feira, mas o Banco Central adotou medidas consideradas como um feriado bancário ante a possível dolarização da economia.

É certo que nem tudo o que foi dito em campanha será implementado na prática, já que, numa economia globalizada, não dá para apostar em isolamento. Hoje, os principais parceiros econômicos da Argentina são Brasil e China, criticados pelo candidato Milei, mas com tom bem abaixo quando se trata do presidente. No seu discurso de posse, deixou claro que não pode abrir mão de parcerias, sobretudo por não ter dinheiro para cumprir parte de seu projeto. Mesmo assim, os olhares estão voltados para o que dirá o ministro da Economia, Luiz Caputo.

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Os jornais argentinos, especialmente o La Nación e o El Clarin, acompanham de perto os desdobramentos e apontam que as medidas mais drásticas só serão tomadas depois de o ministro definir a rota do novo Governo. No seu discurso, o presidente traçou um grave panorama da economia, mas não fez indicações imediatas, como o fechamento do Banco Central, embora seu presidente tenha renunciado, e o sucessor – a despeito de ter sido indicado – não ter tomado posse nessa segunda-feira.

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Medidas econômicas devem ser sempre pensadas e repensadas, pois, se erradas, tendem a piorar ainda mais a situação. O brasileiro conhece tais medidas e suas consequências. Os planos econômicos do presidente José Sarney geraram inflação e insegurança, provocando uma inflação inédita no país. Os produtos sumiram das gôndolas dos supermercados, e medidas populistas, como os fiscais do Sarney, não tiveram qualquer eficácia. O sucessor, Fernando Collor, também anunciou uma bala de prata, com o confisco da poupança. Foi um estrago, só resolvido no mandato de Itamar Franco, quando o Plano Real estabilizou a moeda e a economia.

Ao apontar para a falta de dinheiro, o novo presidente confirmou que fará um inédito arrocho, mas sabe que, ao contrário do Brasil, onde há o Centrão – que age pendularmente de acordo com as negociações -, ele não tem maioria no Congresso e pode, no curto prazo, perder o apoio das ruas, já que, ao fim e ao cabo, medidas drásticas tendem a afetar, sobretudo, as camadas mais pobres. Isso, para um país com alto grau de desemprego, é temerário.

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Não é de hoje que a Argentina tem uma economia instável. Cristina Kirchner – ligada ao peronismo – deixou uma inflação de 17%;seu sucessor, Maurício Macri, de direita, a elevou para 50% enquanto Alberto Fernández a triplicou. O desafio é extremamente relevante e exigirá a conciliação com o Congresso, ao qual deu as costas no primeiro pronunciamento, após a posse, para aprovar seus projetos. Milei pediu dois anos para arrumar a casa, mas é incerto se as ruas terão paciência para tanto tempo.

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