Está se tornando comum no entorno dos estádios e nas arquibancadas – ressalte-se, do mundo afora – o surgimento de conflitos que vão além da paixão pelo clube, indicando que a intolerância está se tornando lugar comum, com discordâncias sendo enfrentadas pelo tacape em vez do discurso. No domingo, o clássico Cruzeiro e Atlético, cujo enfrentamento foi além do gramado, voltou a registrar cenas lamentáveis: torcedores invadindo o espaço alheio e, como mostraram as imagens, ofendendo os seguranças com discurso racista.
Na Ucrânia, o jogador brasileiro Taison viveu situação semelhante. Reagiu à ofensa com gestos e foi expulso. Foi o único penalizado. Na Bulgária, jogadores ingleses passaram pela mesma ofensa, e o máximo adotado pela Fifa foi a adoção de um jogo com portões fechados. Isso não resolve.
Não é de hoje que o enfrentamento tornou-se rotina sem que o Estado, os clubes e as federações, inclusive a CBF, apresentem uma resposta à altura. No último Botafogo e Flamengo, um torcedor foi barbaramente agredido e, por ironia do destino, por torcedores do mesmo clube, que o confundiram com o “inimigo”.
As redes sociais tornaram-se espaço de mobilização desses falsos torcedores convocados para a guerra. Em Belo Horizonte, já houve ocorrências que resultaram em morte, tendo como matriz as chamadas torcidas organizadas, que contam com o beneplácito de dirigentes, especialmente em períodos eleitorais, tanto nos clubes quanto na política.
As normas apontam para o banimento dos torcedores que confundem a paixão com agressão, mas são ações distantes da solução do problema. Os clubes precisam ser chamados à responsabilidade, por serem os patrocinadores desses grupos. Os demais, fora dos estádios, devem ficar à mercê do Código Penal.
No entanto, se nada for feito, a situação tende a se agravar, uma vez que os agressores – normalmente em grupos – se sentirão imunes à punição, afastando dos estádios os verdadeiros torcedores, que comemoram e lamentam os resultados sem, no entanto, ultrapassar os princípios básicos da racionalidade.