O ano mal entrou no segundo semestre e já foram contabilizadas sete mortes resultantes de confronto entre torcidas pelo país afora. O caso mais recente ocorreu no sábado, horas antes do jogo entre Palmeiras e Flamengo, no Allianz Parque, em São Paulo. A jovem Gabriela Cenelli (23) estava acompanhada por amigos e pelo namorado quando se viu em meio a um conflito. Um dos torcedores, já preso, arremessou uma garrafa contra um oponente e acertou a vítima no pescoço. Levada ao hospital, ela morreu no domingo.
A despeito da detenção do suspeito – já com prisão preventiva decretada -, é necessário ampliar a investigação, a fim de prender outros envolvidos, pois se tratava de um enfrentamento entre torcedores rubro-negros e palmeirenses, o que se tornou comum após os dois clubes ascenderem no cenário nacional como grandes rivais. Os meliantes vão pela mesma trilha e transformam a rivalidade em guerra.
São várias as considerações a serem feitas. A primeira envolve o perfil dos envolvidos. Não são torcedores. São bandidos que usam a violência como única alternativa para expressar suas “paixões”. E o pior, boa parte desses grupos é financiada por clubes ou dirigentes, que fazem deles massa de manobra, inclusive, para ganhar espaço nas agremiações. O resultado é trágico, pois estes personagens se sentem parte do contexto e agem como milicianos no combate aos adversários e na vigilância dos jogadores.
Virou moda invadir centros de treinamento e cobrar desempenho diretamente dos atletas sem que haja qualquer contestação. Vários profissionais já foram vítimas, sendo ídolos ou não das torcidas, como o goleiro Cássio, do Corinthians, ameaçado na concentração. O caso mais recente foi do jogador Luan. Torcedores da Gaviões invadiram um motel onde ele e amigos estavam numa ‘confraternização” e o agrediram e o ameaçaram, exigindo sua saída do clube ante a frustração pelo seu desempenho. O jogador William foi outro alvo, mas retornou ao Reino Unido em função do que encontrou no seu retorno ao Brasil.
Não é de hoje que torcidas ditas organizadas agem ao bel-prazer dentro e fora dos estádios. Por um tempo foram implementadas medidas preventivas, com torcedores faltosos sendo obrigados a se apresentarem a um posto policial durante o jogo, mas é pouco, já que a violência permanece após as partidas. Muitos desse personagens têm histórico. Um dos agressores de Luan esteve preso na Bolívia quando se envolveu num episódio que culminou com na morte de um jovem boliviano.
O silêncio dos clubes é emblemático, a fim de não ferir suscetibilidades. Trata-se de um equívoco. Enquanto não houver uma ação plena e insegurança vai continuar. No Reino Unido, os holligans eram o terror dos clubes e dos demais torcedores. Uma dura ação da polícia e campanhas educativas mudou o cenário. Hoje, os jogos da Premier League ocorrem sem necessidade de alambrados.
No Brasil a situação é mais crítica no antes e no depois dos jogos, pois é quando os oponentes se encontram nas ruas. Os agentes da segurança pública, a despeito de todas as medidas preventivas, têm sido insuficientes para coibir tais fatos, sobretudo por não haver sanções adequadas, isto é, os envolvidos são detidos, prestam depoimentos e, ante a fragilidade da legislação, voltam às ruas aptos a cometer novos atos de violência.