Os diálogos entre o ministro Sérgio Moro (no período ainda de juiz) e o procurador Deltan Dallagnol, captados num vazamento que chegou às redes sociais, indicam imprudência de duas autoridades que deveriam falar apenas nos autos; mas, a partir daí, não há, pelo menos por enquanto, espaço para ilações mais amplas. Conversas entre juízes, promotores e advogados fazem parte da rotina forense, desde que não impliquem em qualquer tipo de sugestão que culmine em sentença. Ademais, num momento de corda esticada no mundo digital, é fundamental apurar o contexto pleno das conversas, pois tornou-se comum pinçar trechos e fazer destes uma notícia.
É fato que ambos devem explicar suas ações e qual é a motivação que levou às conversas vazadas no fim de semana. No entanto, em momentos como esses, é fundamental ter serenidade suficiente, sobretudo quando se trata de autoridades de tal porte. Ademais, recomenda-se aos demais atores evitar posições, especialmente quando há chances de serem julgadores de um possível feito. Os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio de Mello, ambos do STF, já dão pistas de seu voto, o que não é bom para a instância judicial. Mendes, por exemplo, t em divergências insuperáveis com os dois personagens, fruto de embates pela mídia, distante do processo. Como prudência e canja de galinha nunca fizeram mal, é naquela que tais autoridades devem se escudar.
Cabe à Polícia Federal apurar todos os dados, a fim de garantir transparência a uma questão que pode – se nada for feito – ir para os palanques e tornar-se uma agenda dos agentes políticos.
Em um momento em que o país se prepara para discutir a reforma da Previdência, faz bem o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, evitar tal discussão. Não por omissão, pois seria jogar a matéria para baixo do tapete, mas por considerar que o projeto de país embutido na reforma é mais importante agora.