O número de homicídios em Juiz de Fora nos três primeiros meses do ano é próximo dos dados de 2022, mas nada impede que se discuta a questão por conta dos danos provocados por tais crimes. A Polícia, e com razão, imputa parte das ocorrências ao tráfico de drogas, matriz de uma série de outros problemas em decorrência, sobretudo, da disputa de território entre os grupos envolvidos.
Mas os crimes contra a vida, consumados ou não, têm outras motivações que fazem parte do debate permanente nas áreas de segurança pública. O número de armas disponíveis nas ruas aumentou de forma expressiva, e mesmo a posse autorizada implica em problemas. A despeito da legislação, trata-se de um dado real a ser considerado, sobretudo quando são levantados os números de apreensão de armas.
A violência urbana, e não é de hoje, é uma das agendas mais importantes dos governos em decorrência das múltiplas implicações. Em muitas regiões do país a população tornou-se refém do crime organizado, que dita regras e comportamentos, formando uma espécie de estado paralelo com ascensão sobre a vida dos moradores. O noticiário tem sido pródigo em revelar enfrentamentos, sobretudo nas periferias das metrópoles, nos quais o Estado formal tenta recuperar espaço mas esbarras em outras questões. O vizinho Rio de Janeiro é um clássico caso de disputa de poder que nem sempre tem a polícia como participante.
As milícias, que na sua gênesis surgiram para combater o crime organizado, caminharam pela mesma trilha e tornaram-se um outro fator de insegurança. São agentes que atuam “em defesa da população”, mas com os mesmos vícios, especialmente, dos traficantes. De novo o Estado formal vive o impasse de combater em duas frentes ao mesmo tempo.
O enfrentamento ao crime e, especialmente, o combate aos homicídios não é uma ação exclusiva da polícia – a face mais à frente nessa ação -, uma vez que, diante das muitas motivações, também outros elementos devem participar do processo. Medidas preventivas continuam sendo um antídoto eficiente, mas, para a sua implementação, a discussão passa pela elaboração de políticas públicas de grande espectro.
No início do ano, Juiz de Fora foi sede de mais um seminário de segurança pública, ocasião na qual várias questões foram colocadas à mesa para redução dos índices. A cidade, reconheça-se, já teve números bem mais perversos, como nos anos 2017 e 2018, com mais de cem crimes consumados contra a vida. A reação foi um projeto conjunto das forças de segurança, sobretudo contra as facções criminosas.
Juiz de Fora já foi sede de programas específicos de combate aos homicídios, como o “Fica Vivo”, cuja significação foi de vital importância na redução dos casos. Além da ação direta do segmento repressor, também envolvia medidas socioeducativas, com projetos próximos das comunidades mais instáveis. Chegou a discutir a sua ampliação para a Zona Norte de Juiz de Fora, mas não houve avanços.
Por ser uma pauta permanente, a segurança pública também implica em investimentos intensivos, que passam pelo aumento do efetivo das polícias Civil e Militar e qualificação de seus atores diretos, sobretudo pela capacidade de atualização do crime, que a cada dia apresenta novas ações. Melhorar as condições de trabalho dos agentes públicos é uma necessidade e colocar essa questão em pauta é uma exigência das ruas para o enfrentamento de uma “guerra” que assusta a todos e diariamente.