A instalação de novas 225 câmeras com inteligência artificial, anunciada, nesta quinta-feira, pela prefeita Margarida Salomão, com objetivo de ampliar a segurança na cidade, e executar outras funções, como o acompanhamento do nível dos rios, é um dado a ser comemorado, sobretudo num momento em que as metrópoles têm em sua agenda constantes discussões sobre o enfrentamento ao crime.
Juiz de Fora é uma cidade segura, sobretudo se comparada com outros centros – a começar pelo vizinho Rio de Janeiro -, o que faz dela uma referência, mas é necessário manter a atenção. O uso das novas tecnologias é uma premissa básica, desde que não haja comprometimento de princípios constitucionais como a privacidade. Os meios digitais ainda não formam um produto plenamente acabado, daí ser positiva a decisão do Executivo de não utilizar as câmeras para o reconhecimento facial.
Trata-se de um projeto já adotado em várias cidades pelo mundo afora, que carece de aperfeiçoamento. A despeito das muitas e boas intenções, ainda não há garantia plena de sua eficácia. Os equipamentos têm apresentado falhas abissais sobretudo quando tratam do reconhecimento de pardos e negros, o que tem levado a erros que nem sempre são corrigidos no tempo hábil.
Isto posto, a ampliação das câmeras tornou-se uma necessidade para facilitar a ação das instâncias de segurança. O Olho Vivo, já implantado na cidade há algum tempo, tem sido eficaz na elucidação de crimes. A vigilância também poderá facilitar medidas do próprio município, por exemplo, em torno da mobilidade urbana. Os órgãos competentes podem ampliar a sua área de ação, a começar pelo horário de pico, direcionando o fluxo de acordo com a demanda.
A tecnologia é sempre bem-vinda desde que utilizada adequadamente. Os tempos digitais, e agora com a inteligência artificial, têm sido temas de seminários, em busca de mecanismos que garantam a segurança da própria população. O uso inadequado superou as expectativas dos primeiros criadores, que viam nos equipamentos instrumentos capazes de melhorar a vida coletiva. Isso, de fato, aconteceu, mas há também as mazelas que permeiam todos o avanço.
Quando associa as câmeras digitais à inteligência artificial, abre-se espaço para uma série de eventos além da mera observação. Há a possibilidade de captação de dados mais seguros do que está sendo filmado que poderão ser aplicados em medidas do dia a dia do município.
A IA é uma realidade que mudou parâmetros do mundo digital, daí a discussão que vai além das políticas de vigilância. No Brasil ainda é incipiente, mas em diversos países já estão avançadas as discussões sobre a sua regulação. Tais medidas são necessárias para inibir abusos de toda sorte, como os muitos já notados especialmente nas redes sociais.
As cidades estão cada vez mais digitalizadas, e é preciso que tanto no setor público quanto no segmento privado haja mecanismos de controle – não de censura – para garantir minimamente os direitos da própria população.