Estudantes de todo o estado envolvidos no projeto Parlamento Jovem, realizado em parceria da Assembleia Legislativa e câmaras municipais, definiram a saúde mental como principal tema a ser discutido nas suas diversas etapas, que começam nas regionais e são concluídas num encontro geral em Belo Horizonte. Os participantes apontaram tal demanda como prioritária não apenas para as suas próprias vidas, mas também como uma questão que envolve todos os extratos sociais. Em suma, de saúde pública.
Tal preocupação tem dados reais para ser manifestada. A própria Organização Mundial de Saúde, num relatório publicado no fim do ano passado, apontou que cerca de um bilhão de pessoas vivem com algum transtorno mental. Entre elas, 14% são jovens. Os dois anos mais críticos da pandemia do coronavírus – 2020 e 2021 – foram o ponto mais crítico desse problema, mas os efeitos colaterais ainda permanecem, não apenas em razão de o vírus ainda ser uma realidade, mas também pelas consequências da fase aguda que se faz presente.
O Janeiro Branco, cujo mote é a saúde mental, é importante por colocar a discussão no patamar das prioridades. O tema ainda é árido em vários setores da sociedade, fruto, ora do preconceito, ora do desconhecimento. Nas várias discussões sobre esse tema, fica explícito que a sociedade ainda não sabe como lidar mesmo diante de uma série de campanhas de esclarecimentos.
As questões mentais são uma realidade e precisam ser enfrentadas com transparência. Diversos atletas de ponta já romperam a barreira do medo e admitiram que estão em dificuldades, como a tenista Naomi Ozaka, do Japão. Entre as dez primeiras colocadas, abandonou vários torneios e voltou a fazê-lo recentemente na Austrália. Ela ainda não está pronta. Fez o mesmo a ginasta americana Simone Biles. Primeira no ranking mundial, não participou de várias provas, algumas delas nos Jogos Olímpicos, por conta do problema.
Há, é fato, um expressivo avanço na discussão, mas ainda resta o preconceito em algumas camadas sociais. Quem procura um psiquiatra passa por uma série de estigmas, e quem faz terapia é visto como uma pessoa-problema. Romper essas barreiras só é possível com exposição. Durante anos, os veículos de comunicação estabeleceram um acordo tácito de não divulgarem suicídios, sobre o argumento de, em o fazendo, estarem incentivando eventuais seguidores.
Hoje, no entanto, é possível colocar a discussão na pauta, por entender que uma pessoa que atenta contra a própria vida já deu pistas e pediu socorro. Por desconhecimento, esses eventuais sinais foram ignorados.
Por isso, quando os participantes do Parlamento Jovem levam a discussão para o plenário, estão, de fato, dizendo que é preciso dar transparência, o que força, necessariamente, a própria sociedade a pedir ajuda e exigir dos entes de Governo a implementação de políticas públicas para o esclarecimento da população e, sobretudo, tratamento para quem precisa.