A decisão do prefeito Bruno Siqueira, na semana passada, de declarar emergência na saúde, em razão de não haver médicos suficientes para atender à crescente demanda de pacientes, não é um fato isolado, mesmo com críticas de alguns setores que apontam para a gestão. Trata-se, sim, de um problema nacional que tem origem única e várias frentes de implicações. Um país com cerca de 200 milhões de habitantes não pode destinar apenas 2,5% do seu Produto Interno Bruto para segmento tão importante. A rede privada, por sua vez, tem uma aplicação bem mais expressiva, apesar de também ter os seus impasses, fruto, em boa parte, do encaminhamento público para seus hospitais.
É fundamental discutir o problema antes de se demonizarem os médicos, uma vez que a questão do salário, que é um fato, não é o único ponto de questionamento. A estrutura de trabalho em boa parte dos hospitais do país é precária, deixando o profissional refém das próprias circunstâncias por trabalhar num mercado em que o erro tem sérias consequências. Os hospitais públicos brasileiros estão sucateados, sem equipamentos e sem equipes, como é possível atestar, principalmente, no vizinho Estado do Rio de Janeiro, onde o caos se generalizou.
O lado perverso desse enredo, porém, é desempenhado pelos pacientes que precisam recorrer ao atendimento. As consultas são marcadas no longo prazo, mesmo quando o tratamento não pode esperar. Filas e mais filas no dia a dia e pessoas espalhadas pelos corredores dos hospitais são cenas que se repetem pelo país afora.
O Governo federal, matriz dos repasses, não apresenta solução, deixando o problema para os governadores e para os prefeitos, sobretudo estes, que vivem o drama dos pacientes de perto e com mãos atadas, sendo induzidos a medidas emergenciais, que são apenas uma solução provisória para uma demanda que se tornou permanente.