A reforma política aprovada na Comissão Especial da Câmara dos Deputados é o típico caso em que os deputados e senadores olham primeiro para o próprio umbigo para, só depois, atenderem aos apelos populares. Embora ainda seja preciso passar pelo plenário, a aprovação do distritão foi um atraso, pois privilegia os atuais detentores de mandatos e os candidatos mais ricos. Além disso, compromete a representatividade dos partidos, que passam a ser coadjuvantes num processo em que é eleito quem tem mais votos.
O modelo proporcional é passível de críticas, pois elege políticos sem votos por pegarem carona nos mais votados, mas leva em conta o papel do eleitor que não teve o seu candidato eleito. Hoje, pelas primeiras previsões, cerca de 30 milhões de votos serão desperdiçados. Além disso, salvo os fenômenos eleitorais, os demais candidatos de primeira viagem terão sérias dificuldades para se elegerem ante tão perversa competição.
O plenário deve corrigir essa distorção, embora não saiba o que colocar no lugar, indicando que a reforma será um mero remendo, a despeito da necessidade de mudanças. O Fundo Público, de R$ 3,6 bilhões, também aprovado na madrugada de quinta-feira, não será a solução, por privilegiar apenas as grandes legendas. Quando o dinheiro acabar, o velho e conhecido caixa dois, mesmo diante de tantos riscos, voltará à cena com força total.
O risco de um remendo se acentua por conta dos prazos. Para valer, já em 2018, o texto precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado até o fim de setembro. Se até agora pouco se avançou, em tão curto tempo, o que vão aprovar passará longe do que se espera.