O cuidado com os equipamentos públicos deve ser uma agenda permanente das muitas entidades representativas, por se tratar de uma questão preocupante. A Tribuna, por meio de uma série de matérias, tem mostrado a deterioração de vários espaços por conta do vandalismo. Praças e pontos de ônibus, como foi apresentado na edição de quarta-feira, têm sido sistematicamente depredados por pessoas que agem contra todos os princípios de ocupação. Na última instância, a culpa, de modo fácil, é jogada para o Poder Público.
Há cotas de participação, mas indicar única e exclusivamente a Prefeitura como a principal responsável é uma forma rasa de discutir essa questão. O Município, como zelador da res publica, tem, sim, o papel de manter tais locais de acordo com a sua vocação, mas há o outro lado da questão. Os equipamentos têm sido quebrados, pichados e inutilizados por personagens que agem no silêncio da madrugada, fruto, em parte, da falta de educação, mas, muitas vezes, de má-fé.
Para os primeiros, a questão deve ser levada às comunidades por meio de campanhas indicando que todos têm responsabilidade, inclusive na fiscalização desses próprios, já que a população é a única penalizada pelo vandalismo. Para aqueles cuja disposição é ampliar o dano, resta a lei. Não dá para transigir com um personagem que quebra deliberadamente o vidro de um ponto de ônibus, depreda o banco ou impõe uma pichação, pois seria virar as costas para o ilícito.
No caso do Parque Halfeld, o cartão-postal da cidade, a Prefeitura fez um mutirão para recuperar o seu principal espaço e dar aos usuários o direito de ir e vir sem riscos; no caso dos ônibus, a parceria Município e consórcios carece de uma afinação de sintonia, pois, se ao Executivo cabe o papel de recomendar medidas, às empresas é reservada a manutenção. A comunicação deve ser, portanto, uma ação permanente, em vez de ocorrer quando o cenário é demasiado grave. Ao percorrer a Avenida Rio Branco, os repórteres da TM constataram danos em todos os 16 pontos, mas a questão não se esgota na principal via da cidade. Por bairros e outras ruas do Centro é possível detectar a mesma situação.
Como bem destaca o arquiteto e urbanista Rogério Mascarenhas, na mesma reportagem, “a falta de conservação, não só nos pontos de ônibus, mas na cidade como um todo, pode alimentar outras situações de degradação do espaço público. ‘Se você não combater de maneira persistente o vandalismo, o vandalismo vai se tornando uma característica do espaço público, ou seja, a própria população, ao perceber que não está havendo manutenção, também não se sente responsável pela manutenção e pela limpeza da cidade. Essa questão está relacionada à teoria das janelas quebradas’, lembra Mascarenhas, referindo-se à teoria desenvolvida na escola de Chicago por James Q. Wilson e George Kelling. A ideia é que, quando um edifício não tem seu espaço conservado, mantendo, por exemplo, as janelas quebradas, a tendência é que a situação implique outros danos. De acordo com a teoria dos pesquisadores norte-americanos, na década de 1960, a desordem geraria desordem”.
A responsabilidade, pois, é coletiva.