As investigações da Polícia Federal sob respaldo do Tribunal Superior Eleitoral e da Procuradoria-Geral da República estão produzindo um quadro de tensão no país, uma vez que, além dos episódios de 8 de janeiro de 2023, estão à mesa ações encetadas antes mesmo das eleições de 2022 vencidas pelo candidato do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva. Na última quinta-feira, o noticiário foi pródigo em apontar os bastidores da República e as iniciativas de setores ligados ao Governo para impedir a troca de comando do país.
A volta ao estado democrático levou tempo e teve custos. Perdê-lo é um ato impensável diante das muitas conquistas que vieram ao curso da redemocratização, mas é fato que proteger a democracia num cenário de polarização radical, especialmente quando um líder está sob investigação, requer uma abordagem cuidadosa e multifacetada. Além da necessária serenidade, para evitar a escalada dos enfrentamentos, especialmente nas redes sociais, é mister fortalecer as instituições e promover a estabilidade política.
No caso das instituições, elas já se mostraram sólidas quando do avanço ao Palácio do Planalto, ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal. A reação, depois de momentos de incertezas, foi a mostra cabal de que há consenso sobre a sua importância, mas há outros desafios. Promover o diálogo e a negociação entre diferentes grupos políticos faz parte do cardápio para evitar a polarização que interessa a poucos, mas tem grande repercussão.
Na última quarta-feira, em Belo Horizonte, o presidente Lula e o governador Romeu Zema, que sempre estiveram em palanques opostos, fizeram um gesto civilizatório ao entender as diferenças e os consensos. A diferença está no viés político-partidário de ambos. Zema está no espectro da direita e o presidente à esquerda, mas nada os impede de dialogarem sobre demandas próprias do Estado. Se criassem barreiras por conta de suas diferenças o derrotado seria o povo, para quem devem ser voltados os projetos que os dirigentes discutiam.
As informações que chegaram às ruas, após abertura das investigações da Polícia Federal e o que já foi levantado até agora são preocupantes, por apontarem para um desvio democrático que, de acordo com o que foi apurado, estevem em curso. Estabelecidos os plenos direitos de defesa e argumentações das partes, não há espaço para a impunidade.
Para garantir a estabilidade do país é necessário investir no fortalecimento da sociedade civil e garantir a representação dos interesses da população em meio à polarização política. A educação cívica nas escolas e na sociedade em geral – sem extremismo, pode cultivar a cultura democrática e cidadã. Isso inclui o respeito à diversidade de opiniões e o entendimento dos direitos e responsabilidades dos cidadãos.
Às vésperas de um pleito, no qual serão eleitos prefeitos e prefeitas, vereadores e vereadoras, a pactuação em torno da democracia deve ser o principal mote dos candidatos. Embora seja um pleito no qual as demandas domésticas sejam o tema central dos palanques e das conversas nos bairros, há uma clara tendência de nacionalização do debate, para repetir o nós contra eles ou eles contra nós, que na maioria das vezes, se afastam os interesses coletivos.