O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ingressou com pedido de impedimento do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal, por entender que o magistrado tem agido ao arrepio da lei, ou melhor, não tem se declarado impedido em situações em que deveria se afastar do processo. O caso fonte desse imbróglio foi a concessão de habeas corpus ao empresário Eike Batista pelo ministro, a despeito de sua mulher, advogada de profissão, trabalhar num escritório que o representa. Em entrevista à Folha de São Paulo, o ministro observou que ela atua em causas cíveis, enquanto o caso de Eike, que levou ao HC, é de conotação penal. Gilmar falou de todos os temas, mostrando-se despreocupado por estar no olho do furacão.
A despeito de tudo o que tem sido dito, especialmente nas redes sociais, é preciso serenidade nas abordagens, embora seja essa a última coisa que acontece no mundo digital. Quando decidiu a favor de um mandado de segurança impedindo a posse do ex-presidente Lula como ministro da ex-presidente Dilma, Mendes foi tachado de coxinha, tucano de primeira hora e outros adjetivos. Agora, quando solta o ex-ministro José Dirceu, como um dos três votos a seu favor, o questionamento vem do outro lado, apontando que o movimento das ruas também é pendular. Quem jogar para a arquibancada, abrindo mão de princípios, corre o risco de perder dos dois lados.
Hoje, se não houver mudanças de última hora, o ex-presidente Lula estará diante do juiz Sérgio Moro, numa audiência esperada como confronto entre ambos – um exagero da mídia, que em nada contribui com as investigações. Trata-se apenas de uma audiência de instrução e erra quem trata o evento como um show e quem entende ser a melhor oportunidade para enquadrar o dirigente petista.
O juiz Moro conhece bem o que está em jogo e seus primeiros gestos apontaram para a serenidade necessária, não apenas quando pediu que os adversários de Lula evitassem Curitiba, mas também quando negou o pedido para transmissão ao vivo da audiência.