Apesar de a ressocialização de pessoas que praticaram algum crime ser uma temática cada vez mais discutida, na prática, muito pouco ainda é feito no sentido de tornar esse processo uma realidade no Brasil. A falta de apoio dos setores privados e da população em geral, que ainda falham em compreender os muitos aspectos que compõem a problemática da vulnerabilidade social no país, estão entre os principais entraves.
Quando existem, geralmente, essas iniciativas partem do Estado ou de Organizações Não Governamentais. E apesar de, em alguns casos, contarem com parcerias de empresas dos setores privados, esses grupos não têm as condições necessárias ou as prerrogativas para acompanhar o desenvolvimento dos egressos do sistema prisional e para prestar outros tipos de apoio, como o psicossocial, também muito importante nesse processo.
Na edição da Tribuna desta terça-feira (9), a repórter Nayara Zanetti conversou com integrantes do Centro Socioeducativo de Juiz de Fora, que, em 2023, proporcionou qualificação profissional a 97 dos 143 adolescentes privados de liberdade que passaram por lá. O objetivo das capacitações ofertadas é promover novas oportunidades para inserir no mercado de trabalho os jovens que cometeram alguma infração, por meio de cursos profissionalizantes como de panificação e pizzaiolo e oficinas, como de pintura.
Conforme os integrantes do Centro, esse tipo de iniciativa contribui para que os jovens – que também têm acesso a uma rede de ensino dentro da unidade, cuja participação é obrigatória -, possam olhar para seu futuro e enxergar possibilidades diferentes, já que, ao final dos cursos, além de receberem certificados, eles têm a possibilidade de serem contratados por empresas parceiras.
Também à Tribuna, o diretor-geral do Centro, Emerson Rocha, destacou que esse tipo de profissionalização é uma forma de investir em segurança pública, visto que capacitar esses jovens é uma das formas de contribuir para que eles se afastem da criminalidade, e que a segurança pública depende de toda a sociedade.
Mas a afirmação ainda vai de encontro ao que grande parte da população acredita. Apesar de se valerem da máxima “Não dar o peixe, mas ensinar a pescar”, muitos ainda veem a ressocialização de egressos do sistema prisional com preconceito e intolerância. Considerando o tamanho da população privada de liberdade no país – que era de mais de 830 mil pessoas em 2022, de acordo com a 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública -, o número de empresas e vagas destinadas a egressos do sistema prisional ainda é ínfimo.
É preciso fazer mais, e são muitas as formas de contribuir para a mudança nesse cenário, seja individualmente ou em uma microcomunidade. Apoiar a contratação de pessoas que já cumpriram suas penas em razão do cometimento de algum crime e contribuir para que elas sejam inseridas na sociedade de forma justa já podem ser os primeiros passos.