As ações de domingo na Esplanada dos Ministérios – cujas imagens percorreram o mundo, foram manchetes de sites e jornais e mereceram o repúdio de lideranças internacionais – vão exigir das autoridades não só serenidade, mas também dureza da lei para punir os culpados. Dois anos depois da invasão do Capitólio, nos EUA, ocorre o mesmo no Brasil – também num mês de janeiro -, com resultados mais graves, pois os vândalos invadiram não apenas o Congresso, mas também o Planalto e o Supremo Tribunal Federal.
Na manhã dessa segunda-feira, os chefes dos três poderes demonstraram todo o seu repúdio pelo que aconteceu, mas não basta publicar notas. De acordo com o Instituto Quaest, que fez uma triagem de dados no momento mais crítico da invasão, 90% dos brasileiros se manifestaram estarrecidos com o que viram. Por isso, aplicar a lei é o único dado válido, mas não apenas contra os invasores. Boa parte é formada por peixes pequenos, uma vez que está tacitamente claro não ter sido uma ação aleatória ou que fugiu do controle.
Ao contrário, foi uma ação organizada e financiada, daí a importância de as investigações identificarem os patrocinadores da desordem. Os cerca de cem ônibus que foram a Brasília certamente foram contratados e pagos por algum ou alguns financiadores, assim como está claro que os acampamentos espalhados pelo país não são meros aglomerados. Há quem garanta a logística para seu funcionamento.
O direito de protestar é uma concessão da democracia, mas dentro dos limites estabelecidos pela própria lei. Quando essa linha é ultrapassada – como ocorreu no domingo -, não há outro caminho a não ser a aplicação das normas.
O ex-presidente Bolsonaro usou suas redes sociais para dizer que sempre agiu dentro das quatro linhas, mas fez uma comparação imprecisa ao dizer que em 2013 ocorreu a mesma coisa. Na gestão Dilma Rousseff, o povo foi às ruas em nome de uma causa difusa, sem lideranças e sem uma pauta exclusiva. As depredações foram produzidas por grupos infiltrados.
Com roupas escuras e rostos cobertos, os adeptos da chamada tática black bloc quebraram vidraças de bancos, invadiram concessionárias de carros de luxo e partiram para cima da polícia. O que era um protesto contra o aumento das tarifas do transporte público na cidade de São Paulo ganhou proporções de vandalismo.
As instâncias de poder devem agir para evitar a recorrência, mas devem fazê-lo sem qualquer viés de revanchismo, pois, se assim agirem, estarão dando argumentos para novas manifestações.