Em 2013, quando o povo foi às ruas num movimento suprapartidário, os políticos ignoraram solenemente o seu significado. Em vez de tomarem algum tipo de atitude, fizeram ouvidos moucos e produziram uma reforma política pífia, voltada mais para o viés eleitoral do que para o lado desejado pela opinião pública. Os primeiros sinais já foram dados em 2014, mas o resultado mais expressivo saiu das urnas de domingo. As chamadas grandes legendas perderam cadeiras na Câmara e nas assembleias legislativas. Até mesmo o PT, que terá a maior bancada, não tem o mesmo número de parlamentares em relação à atual legislatura. O PSDB, que com ele vem dividindo disputas presidenciais desde 1994, tornou-se um partido de médio porte, com apenas 29 deputados num colégio de 513 vagas. Os tucanos já assistem aos primeiros ensaios de ruptura, que deve se acentuar numa eventual vitória de João Doria em São Paulo. Ele não terá o menor constrangimento em expurgar quadros históricos, como o próprio candidato Geraldo Alckmin, e guinar o partido para a direita.
Resta ainda o segundo turno, mas os legislativos já estão formados, e o novo formato já é suficiente para indicar que há um desgaste de material que precisa ser revisto. Demonizada nos palanques e nas ruas, a instância política terá que fazer a sua parte para reverter a situação, mas terá, também, que rever conceitos e atitudes. As ruas não querem o balcão de negócios que se estabeleceu na relação entre Legislativo e Executivo, próprio de um modelo de interdependência em vez de ação e fiscalização. Para administrar, presidente e governadores tiveram que fazer concessões pouco republicanas aos deputados e senadores. Os acordos devem ser feitos em cima de princípios, e não de nomeações. Foi isso que o eleitor disse ao reformular os parlamentos, encerrar mandatos e rejeitar outras postulações.
A história ainda não foi contada e precisa de tempo para melhor avaliação, sobretudo em razão da inflexão demonstrada nas urnas de outubro, que surpreendeu a ciência política e os pesquisadores de intenção de votos. Os institutos só perceberam a mudança na boca de urna, embora algumas pistas já tivessem sido dadas. O papel das redes sociais, especialmente o WhatsApp, foi relevante, e, mesmo não aposentando a televisão e o rádio, nos quais a propaganda política é obrigatória, elas deixaram claro que há um novo espaço a ser avaliado com mais precisão.