“Bombeiros” do Planalto e do Senado Federal tentam reduzir a temperatura entre o Governo e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que não esconde sua insatisfação com a postura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na discussão da dívida dos estados. Ele ameaça travar a agenda prioritária do Governo até que haja uma saída para o impasse que se formou e não dá sinais de recuo. Para tentar desfazer o mal-estar, o presidente Lula escalou o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e os líderes do Governo no Senado, Jaques Wagner, e no Congresso, Randolfe Rodrigues, para uma conversa que teve também a presença do próprio Haddad. O presidente do Senado Federal, afirmou, após o encontro, que vai reunir, ainda nesta semana, governadores de estados endividados com a União para alinhavar um projeto que seja resultado do consenso entre os chefes dos Executivos estaduais e o Senado, além do governo federal. Com isso, Pacheco afasta a intenção de o governo arrastar, por mais 60 dias, o possível desfecho para a questão da dívida.
Durante todo o primeiro mandato, o governador Romeu Zema tentou dar fim à impagável dívida de Minas e, com liminar da Justiça, suspendeu os pagamentos, que agora pesam ainda mais no débito de Minas e chegam à casa dos R$ 160 bilhões. Além de não ter respaldo da Assembleia, que guardou o projeto na gaveta da Mesa Diretora, o dirigente mineiro também foi ignorado por Brasília. Como o tempo está passando, Pacheco entrou no circuito e chegou a montar uma agenda com o presidente Lula, da qual ele e o próprio Zema participaram. Ficou acertado que o Estado e a União iriam construir um projeto conjunto que serviria de referência para os demais estados que passam pela mesma situação.
A proposta inicial do governador incluia a privatização da Cemig, da Copasa e da Codemig, que entrariam no pacote para amortizar as dívidas. A Assembleia barrou. O projeto do presidente do Senado tirava a privatização, mas incluia a federalização dos ativos mineiros, garantindo sua permanência nas mãos do setor público.
Haddad gostou da ideia, mas, há cerca de 15 dias, apresentou uma terceira proposta, desta vez indexando os juros da dívida à implementação de projetos educacionais. Os estados que cumprissem metas teriam taxas mais amigáveis para amortizar a dívida. O texto foi visto apenas como uma porta de entrada e não uma solução.
Como o prazo de pagamento da primeira parcela, estabelecido pelo ministro Nunes Marques, do STF, vence no próximo dia 20, é preciso encontrar uma saída, uma vez que, nos termos atuais, não há condição de pagamento nem para Minas nem para os demais entes federados.
É fato que, para cumprir as metas de déficit zero, o ministério da Fazenda não se mostra disposto a fazer concessões, mas não há outro meio. Os dois lados precisam abrir mão de suas posturas, o que só é possível por meio de negociações. Estabelecer medidas unilaterais não ajuda em nada e levam a uma situação em que os dois lados acabam perdendo.