O presidente Lula e o governador Romeu Zema, ao se encontrarem, nessa quinta-feira, em ato em que a União anunciava investimentos em Minas, deram mostras de ser possível manter uma relação republicana sem que nenhuma das partes abra mão de suas convicções políticas e ideológicas. Quando há contraposições, a maneira mais eficaz envolve o diálogo e o compromisso. Ambos, como se propuseram, podem trabalhar juntos para encontrar soluções que atendam ao interesse maior: o bem-estar da população.
Tal processo, no entanto, requer disposição para ouvir e considerar os diferentes pontos de vistas e encontrar um terreno comum. Em seus discursos, o presidente e o governador caminharam por essa linha, mesmo estando em palanques opostos na eleição passada e, certamente, nas próximas. O presidente destacou que o fato de serem adversários não impede que atuem juntos, e o governador lembrou que os governantes devem aprender a conviver com as diferenças.
Nos cargos que ocupam não há sentido estabelecer uma permanente linha de tensão quando os interesses se cruzam. O caso emblemático é o Regime de Recuperação Fiscal de Minas. A União, como credora, quer receber; o Estado, como devedor, quer pagar em condições que não comprometam as suas contas. O ponto em comum é a necessidade de não afetar ainda mais as ações que beneficiam diretamente a população.
O RRF esteve próximo do impasse a partir da falta de diálogo. Primeiro com a Assembleia, depois com a equipe econômica federal. A ação do presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, e do presidente da Assembleia, Tadeu Leite, mitigou os danos, pois ambos entenderam que acordo bom só vale quando é bom para as duas partes. O projeto alternativo ora em tramitação em Brasília foi a principal mostra de ser possível buscar consenso quando as partes têm interesse em obtê-lo. Até então, a corda estava esticada sem perspectiva de solução.
Ao fim e ao cabo, quem sofreria os danos seria a população ante a desidratação dos serviços públicos como resultado da falta de caixa do Estado. O presidente e o governador devem ter nova conversa apôs manifestação do Ministério da Fazenda.
O evento em Belo Horizonte mostrou a face da política, com o presidente falando com públicos distintos formados pelo governador, prefeitos e lideranças tendo como pano de fundo os projetos da União. Sobram demandas: na lista de pedidos, o governador, além da Recuperação Fiscal, pediu empenho na recuperação de estradas federais. A BR-381 é uma novela de muitos capítulos, que já venceu várias administrações, tanto federal quanto estadual, sem uma solução definitiva. A rodovia, em razão dessa leniência, é conhecida como estrada da morte.
O próximo passo é a retirada do papel das demandas apresentadas ao presidente e das propostas por ele apresentadas, como a retomada das obras do Hospital Universitário da UFJF em Juiz de Fora. Independentemente do palanque, são necessárias e não podem esperar mais.