As imagens vindas do Espírito Santo, mostrando saques à plena luz do dia e em áreas normalmente povoadas, deixam claro um cenário de insegurança que aflora no estado, fruto de uma paralisação da Polícia Militar – que o Governo chama de chantagem – e com adesão da Polícia Civil, esta em protesto pela morte de um agente. O argumento dos militares é a falta de reajuste salarial da categoria, que vive o risco permanente do ofício. Nas ruas, a população clama por medidas imediatas ante o medo que acomete nativos e visitantes, já que a região litorânea capixaba é uma das mais procuradas pelos turistas, inclusive juiz-foranos, como a Tribuna mostrou na edição de ontem.
Esse Leviatã revela o lado perverso do ser humano, no qual, em não havendo quem tome conta, ele se considera capaz de saques e outras ações predatórias. Mas o dado concreto é a falta de mobilização das instâncias de poder para encontrar uma solução, jogando a bola para Brasília, que já mandou o Exército e a Guarda Nacional, cuja missão primária não é de cuidar das ruas, salvo em casos excepcionais, como esse, mas por um certo tempo. É necessário resolver o impasse, pois a conta caiu no colo – como sempre – da população, ora ilhada em suas casas sem a garantia de estar segura.
Tais episódios refletem, por outro lado, a necessidade de o país ter um plano nacional de segurança que contemple não apenas medidas contra o crime, mas também de proteção dos agentes de estado, o que implica, necessariamente, boa remuneração e condições adequadas de trabalho. O que ora ocorre no Espírito Santo é pauta das polícias de outros estados, que também discutem tais demandas. Minas já viveu situação semelhante no Governo Eduardo Azeredo e quase chegou a repeti-la quando o governador Fernando Pimentel admitiu, para renegociar a dívida mineira com a União, congelamento de promoções e de salários.
Passada a fase crítica das mortes nos cárceres, a discussão refluiu, e não se sabe em que pé está a matéria, mas com a crise capixaba será possível retomar a agenda, sobretudo por ser necessária a sua implantação. O vácuo no Ministério da Justiça, mesmo sem indicação de um novo ministro, não pode ser justificativa para não se fazer algo.