O Aedes aegypti é, há cerca de duas décadas, um problema complexo para a saúde pública do Brasil. Além de transmitir doenças, como a dengue, ele resiste a tentativas frustradas dos governos em combatê-lo. Esse mosquito originário da África consegue se adaptar bem em ambientes urbanos e em regiões tropicais e subtropicais. Por isso, faz a festa no Brasil, principalmente no verão, quando o período quente e chuvoso eclode suas larvas.
Os resultados desse oportunismo bem-sucedido estão postos: de um ano para cá os casos prováveis de dengue cresceram 12 vezes em Juiz de Fora. No estado, a doença matou quase 200 pessoas, número que engrossa a estatística brasileira – em 2023, o país bateu recorde de mortes causadas pela arbovirose. Para piorar, o prognóstico não é bom.
No fim do ano passado, o Ministério da Saúde divulgou que Minas está na lista dos estados que devem registrar nível epidêmico de dengue em 2024. A esses níveis, aumenta-se a possibilidade do ressurgimento do sorotipo 3 da doença, que estava há 15 anos sem circular no Brasil. Nessa toada, as chances de novos e graves casos aumentam à medida que a circulação de um sorotipo há tanto tempo ausente expõe a população sem imunidade.
E por que é tão difícil combater o mosquito? Pesquisadores e infectologistas destacam justamente a adaptabilidade do Aedes, que se reproduz em pequenas quantidades de água acumulada, comuns em ambientes urbanos. Além disso, após a postura, os ovos conseguem resistir por um ano em estado de latência até serem preenchidos por água limpa e parada e eclodirem para originar as larvas.
Essa resistência ratifica a ineficiência de campanhas sazonais de conscientização e combate ao mosquito, assim como o uso inadequado de inseticidas, que pode levar à resistência do mosquito a essas substâncias. Há a dificuldade de se eliminar os criadouros, a maioria presente dentro das casas e em terrenos abandonados. Além disso, a desigualdade socioeconômica amplifica os efeitos da doença, tornando-a mais difícil de ser controlada em comunidades vulneráveis.
Não se pode, portanto, transferir a responsabilidade de combate à população. A dengue é um problema de saúde pública e as formas de evitar sua transmissão devem ser orientadas pelos governos. Intensificar campanhas de conscientização e visitas domiciliares ao longo de todo o ano talvez seja um caminho. Sabemos da resistência por parte da população em receber agentes, mas é preciso insistência e alternativas à negativa. Recentemente, o Estado anunciou verbas para os municípios para a compra de drones que serão utilizados na identificação dos criadouros do mosquito em 2024. Possibilidade de uso da tecnologia que pode ser promissora se conduzida de forma efetiva.
Há quem acredite que campanhas e ações ininterruptas por anos possam erradicar o Aedes. Outros pesquisadores assinalam que isso é impossível. Para estes, a vacina se torna uma alternativa de prevenção para a arboviroses. Atualmente, apenas o imunizante contra a dengue está disponível, mesmo assim, de forma tímida no SUS. A expectativa, portanto, é de que o acesso às doses seja ampliado, e as campanhas, intensificadas, a tempo de se evitar uma nova epidemia de dengue em Minas e no país – muito embora o tempo, literalmente, não esteja a nosso favor.