A internet é um caminho sem volta, mas navegar no universo virtual não é uma questão simples, pois exige, sobretudo, cuidado e razoabilidade. As redes sociais tornaram-se espaço de avanços, mas também de um permanente embate, especialmente na política, forjando um maniqueísmo contemporâneo de danos imensuráveis. Mas o viés ideológico não esgota as preocupações. Como a Tribuna mostra nesta edição, os crimes cibernéticos crescem em proporções geométricas, e o seu combate tem sido desigual ante o desaparelhamento das estruturas oficiais. Em Minas, por exemplo, há apenas uma delegacia, instalada em Belo Horizonte, que repassa o seu know-how para o interior, mas sem a eficiência esperada.
O mundo virtual foi uma importante inflexão para a civilização, pois aproximou pessoas, deu velocidade aos fatos e deu fim ao isolamento. Os acontecimentos são replicados em tempo real, e a privacidade entrou em xeque. E aí reside um dos problemas. Não se mensuram os danos da desconstrução de biografias, sobretudo quando esse processo é compartilhado sem o devido conhecimento de sua gênesis. As fake news ganharam conotação de coisa séria e têm tido um papel ativo, inclusive, na política.
Esse mundo novo impressiona pelas novidades diárias, exigindo preparo dos agentes de Estado para monitorar os abusos. Sem censura, deu margem para toda sorte de ação, muitas delas com o aval do próprio Estado. Se o presidente Michel Temer não vetar, a Câmara prosseguirá com o projeto em que os políticos, sem aval judicial, poderão requerer a retirada de conteúdos que considerem prejudiciais à sua imagem. O pedido é válido, o modo, não, pois a via correta é a Justiça.
Mas se a via política se protege, os demais não têm a mesma prerrogativa, dependendo de investigações oficiais para se livrarem de delitos. Mas, quando o Estado não segue o ritmo dos autores de ilícitos, a luta torna-se desigual, bastando ver os números de ocorrências em escala crescente.