A tragédia do Rio Grande do Sul, especialmente da capital Porto Alegre, entra em uma nova etapa. O país inteiro está solidário com a população gaúcha e se mobiliza para o envio de produtos que possam atender às demandas primárias dos afetados pelas inundações. Juiz de Fora abriu várias frentes para participar do processo com envolvimento de setores públicos e privados, confirmando a vocação de solidariedade dos mineiros.
Ainda há previsões de chuvas na região, pelo menos até o fim de semana, o que aumenta a apreensão da população. Além da capital Porto Alegre, a maioria dos municípios gaúchos vive situação semelhante. Na região fronteiriça ao Uruguai há possibilidade de temporais com precipitação de até 200 milímetros em um só dia.
A segunda questão, e que deve ganhar ênfase nos próximos dias, envolve o papel das lideranças administrativas nas políticas de prevenção. O Portal UOL e a Folha de São Paulo tiraram as primeiras críticas da gaveta. De acordo com ambos, a Prefeitura de Porto Alegre não investiu um real sequer na prevenção a enchentes em 2023.
Com base em dados retirados do Portal da Transparência de Porto Alegre, relatam que o departamento que cuida da área tem R$ 428,9 milhões em caixa, mas não fez qualquer investimento. Em nota, o órgão argumentou que o gasto não é zero porque investiu em outras áreas que também impactam na prevenção às cheias.
Se fez, o resultado foi discutível, uma vez que a maior parte da cidade está sob as águas numa clara demonstração de uma estrutura preventiva precária. É fato que o volume de chuvas superou todas as expectativas, mas os resultados poderiam, pelo menos, terem sido mitigados se as ações preventivas tivessem sido adequadamente implementadas.
Com a instabilidade climática, qualquer parte do mundo está sujeita a situações extremas. La Niña ou El Niño são fenômenos resultantes de processos de longo prazo forjados pelo próprio homem. Não é de hoje que especialistas têm advertido que a natureza vai cobrar a conta, e é o que está acontecendo.
Enquanto em determinadas regiões as chuvas são torrenciais, em outras o processo é inverso, com secas intermináveis. O próprio Rio Grande do Sul é pródigo em ciclos áridos em pleno verão, quando o resto do país está sob chuvas. Desta vez, cessados os temporais nas demais partes do país, o Sul – o que inclui também Santa Catarina – passa pela situação atípica dos temporais.
Pelo mundo afora há problemas. Os americanos saíram de um dos invernos mais das últimas décadas, com temperatura abaixo de zero até em regiões que não registravam tal fenômeno. Nos recentes seminários a instabilidade climática foi a pauta prioritária.
O dilema é como agir perante uma quantidade considerável de problemas. O que hoje afeta o Rio Grande do Sul pode ocorrer em qualquer parte do país, indicando a necessidade de as políticas preventivas, o que inclui implementação de infraestrutura, ganharem ênfase nos fóruns climáticos e até mesmo no debate político. A maioria das cidades brasileiras tem sérios problemas estruturais para enfrentar situações críticas.
E nem sempre é por falta de recursos. Como no caso apontado pela Folha e pelo UOL, o ponto central foi a ausência de planejamento. As metrópoles possuem maneiras para minimizar os danos. No entanto, entre os mais de 5 mil municípios, a maioria não possui planejamento ou recursos. Eles não sabem sobre projetos para lidar com as consequências das chuvas e secas, ficando à mercê do acaso. Frequentemente, eles consideram que as catástrofes ocorrerão apenas no município vizinho.