O Ministério do Esporte iniciou na última terça-feira, na Arena Fonte Nova, em Salvador, a campanha Cadeiras Vazias, um movimento de alcance nacional pela paz nos estádios. Na partida entre Bahia e São Paulo, pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro, o setor sudoeste do estádio ficou vazio. As 384 cadeiras foram cobertas com camisas de diferentes times, com a intenção de representar pessoas que perderam a vida no futebol entre os anos de 1988 e 2023. Além disso, foi estendida uma bandeira branca com a frase: “A paz vai ocupar”.
De acordo com o ministro do Esporte, André Fufuca, a campanha marca um passo importante no combate à violência nos estádios, promovendo o futebol e o esporte como espaço de união e segurança. “Queremos que crianças, jovens, adultos e famílias possam torcer juntos e em paz. O objetivo é que o futebol seja um ambiente seguro, onde o amor pelo esporte supere rivalidades”, destacou.
O ministro tem razão, uma vez que ir aos estádios, hoje, tornou-se uma operação de risco ante a beligerância das torcidas. No entanto, por extensão, a campanha deve afetar também o entorno dos estádios e até mesmo as vias de acesso, já que a maioria das ocorrências ocorre perto dos estádios, e não, necessariamente, dentro deles. As chamadas organizadas promovem verdadeiros espetáculos de horror em nome de um “amor” aos clubes.
Na solenidade em que foi feito o anúncio da campanha estavam presentes familiares da jovem Gabriela Aneli, que foi morta no dia 8 de julho de 2023 durante um enfrentamento de torcidas. Representantes de duas outras vítimas fatais também estavam no mesmo evento.
Não é de hoje que esse problema é discutido no Brasil. Várias ações foram realizadas, mas pouco se avançou. Uma das causas é a ligação direta dessas torcidas com os clubes, que lhes dão vantagem de toda sorte por conta da “fidelidade”. Até viagens são patrocinadas, o que lhes garante uma série de benefícios. Os grupos criam vida própria e agem como controladores dos jogadores, além dos limites quando se trata da guerra contra os adversários.
A Polícia Civil de São Paulo ainda está atrás dos líderes de uma emboscada praticada por torcedores palmeirenses que culminou com a morte de um torcedor do Cruzeiro, no mês passado. O ônibus que conduzia os mineiros foi emboscado num trecho da rodovia em São Paulo. Além das agressões, os autores ainda queimaram o veículo. O jovem, que seria pai nos dias seguintes, não resistiu.
Não é por falta de lei que o problema continua. O debate deve ser aprofundado, para o levantamento de ações mais objetivas. No Reino Unido, os hooligans – durante décadas a torcida mais violenta do mundo – foram contidos. Hoje, não há alambrado separando a torcida dos atletas graças a duras medidas tomadas pelo governo e pelas entidades esportivas. Há, portanto, meios para mudar esse cenário, mas é necessário romper as relações entre clubes e organizadas para se dar o primeiro passo. Não basta nomear os vândalos e retirá-los dos estádios ou de seu entorno em dias de jogo. Tal medida está vigente há anos, mas nem por isso a violência caiu.